Título: Divórcio amigável com o FMI
Autor: Sabrina Lorenzi e Marcia Arbache
Fonte: Jornal do Brasil, 14/12/2005, Economia & NEGÓCIOS, p. A17

Brasil zera dívida de US$ 15,5 bi com o Fundo antes do prazo e começa a abater dívida externa ano que vem. Dólar deve subir

Um dos casamentos mais conturbados da história da economia mundial está prestes a acabar. E de forma amigável. O governo brasileiro vai zerar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), antecipando o pagamento de US$ 15,5 bilhões que seria realizado ao longo dos próximos dois anos. A quitação abre caminho para a valorização do real, ajuste tão esperado por exportadores. Isso porque os recursos sairão das reservas internacionais, que dobraram no último ano, para cerca de US$ 50 bilhões. Indagado sobre a possibilidade de o governo recompor as reservas destinadas à operação, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, respondeu que ''é uma possibilidade''. Se o governo optar pelo aumento das reservas, terá que comprar dólares, forçando a alta da cotação. O secretário deixou claro que a decisão de volume de reservas não cabe ao Tesouro, mas deu outra notícia que poderá aliviar os exportadores do real valorizado. Com alvo na redução da dívida externa, o Tesouro vai rolar 75% da dívida externa, considerando a parte principal do passivo, sem juros. O costume é rolar todo o montante, pagando somente juros. O governo brasileiro tem vencimentos de US$ 5 bilhões em 2006, considerando apenas o principal da dívida. Mas o alvo é pagar US$ 1,25 bilhão e rolar outros US$ 3,75 bilhões, como adiantou Levy. Com o abatimento da dívida, o governo passa a demandar mais dólar, o que também pressiona o câmbio para cima. O secretário do Tesouro revela que já tem US$ 3,5 bilhões em caixa para o pagamento da dívida externa, mais que o suficiente. Mas na fatura também deve ser considerada a cifra de gastos com juros, número que o secretário não citou. Portanto, diferentemente do que ocorria há quatro anos, parte importante do pagamento da dívida externa do ano de 2006 já está pré-financiada. Além da quitação da dívida externa e do desenlace com o FMI, o Tesouro dá outras demonstrações de eficiência com relação à administração do passivo. A redução da dívida interna atrelada ao dólar despencou de 40% do total do passivo em 2002 para quase nada neste ano, segundo o secretário. O feito está até rendendo premiações ao Brasil por uma revista estrangeira. O objetivo do governo ao quitar a dívida com o FMI, de acordo com Levy, foi mostrar como o Brasil se encontra saudável financeiramente. - É uma demonstração de onde chegamos. Mesmo com o pagamento, temos três vezes mais em reservas do que tínhamos há três anos - comemorou. Segundo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao quitar toda a dívida com o FMI antecipadamente, o Brasil vá economizar cerca de US$ 900 milhões que seriam gastos com juros. Segundo o ministro, as condições para adiantar o pagamento da dívida com o FMI foram alcançadas graças ao ''crescimento das reservas e comportamento das contas externas''. - Nosso saldo comercial é muito forte, tem crescido, então podemos tomar essa atitude - afirmou Palocci. - O valor teria que ser pago de qualquer maneira entre 2006 e 2007 e em função da economia como um todo e como não eram recursos permanentes o ministro Palocci e o presidente do BC, Henrique Meirelles, entenderam que seria melhor pagar logo - ressaltou Levy, que participou do seminário Quadro Geral das Parcerias Público-Privadas (PPPs e o Arco Rodoviário do Rio de Janeiro, promovido pelo Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil e Forbes. Já Meirelles classificou a antecipação do pagamento como ''histórica''. - O pré-pagamento ao FMI representa um momento histórico para o país e reflete a melhora significativa dos fundamentos macroeconômicos no período recente, como conseqüência das decisões de política econômica tomadas pelo governo - afirmou.