Título: Asa Norte ganha Rua das Livrarias
Autor: Paula Porto
Fonte: Jornal do Brasil, 16/11/2004, Brasília, p. D-2

Mais uma quadra comercial vai agregando o mesmo tipo de comércio: agora é a 406/7 Norte, que inaugura hoje quarta loja Há 44 anos, em meio à típica vegetação do cerrado, foi construída a capital com seu Setor Bancário, Hoteleiro, de Embaixadas, de Diversões, entre muitos outros. Cercado de siglas, letras e números, o brasiliense sente a necessidade de apelidar alguns lugares que, sem intenção, vendem a mesma coisa ou oferecem o mesmo serviço. Além da Rua dos Restaurantes, das Farmácias, das Elétricas e das Noivas, Brasília ganha agora mais um referencial: a Rua das Livrarias, na 406/7 Norte. Os comerciantes juram que a proximidade com a Universidade de Brasília (UnB) não foi um fator predominante na escolha da rua. Mesmo assim, hoje, mais uma livraria - a quarta - se instala no local: a Entrelivros.

- Não havia atentado para esse fato. Acho que o acesso à UnB ajuda, mas o fato de ter livrarias tradicionais é que traz confiança e estímulo - garante Areta Amorin, responsável pela programação cultural da Entrelivros, se referindo às livrarias Só Livros e Sebinho - esta já há 18 anos no local.

Lourenço Flores, proprietário da Esquina da Palavra, na mesma quadra, acredita que a Rua das Livrarias está surgindo para resolver problemas de organização e abastecimento, tentando viabilizar a distribuição dos serviços de forma facilmente acessível e permitindo a interligação das áreas residenciais.

- A tentativa de organizar todas as livrarias numa mesma dimensão de unidade é uma ficção convencional, já que uma cidade não pode ser organizada com uma grandeza não dividida. Brasília ao setorizar as áreas funcionais tem o mérito de não se fragmentar ou compartimentar, muito pelo contrário, a repartição adotada estrutura a cidade, imprimindo unidade, integridade e ordenamento urbano - observa.

Os clientes consideram a idéia prática e moderna e acreditam que a concentração estimulará a pesquisa.

- A vantagem é que as lojas estarão próximas. O que você não encontra em uma, na porta seguinte você pode encontrar. Com essa aglomeração de livrarias, a concorrência entre elas facilita no preço. Tudo isso bem próximo da UnB. Isso facilitará muito a minha vida - afirma Stella Alves, estudante do 3º semestre de veterinária da UnB.

Não é só com relação à concorrência que os estudantes da UnB e moradores das quadras residenciais vizinhas serão beneficiados. De acordo com Cida Caldas, gerente da Sebinho, a junção das livrarias na rua poderá possibilitar uma rica programação cultural.

- Essa união é muito positiva. Tem lugar para todo mundo e os clientes que gostam de livros vão em todas. Além disso, a quadra pode se tornar uma referência cultural. Ainda não chegamos a falar nisso, mas será bom fazer algumas promoções em conjunto - diz Cida, se referindo não só às livrarias, mas também à Galeria da UnB, DCE Bar, papelarias e tantos outros estabelecimentos da rua.

No entanto, há quem acredite que a especialização das livrarias descaracteriza a identidade e qualidade arquitetônica de capital.

- O plano de Lúcio Costa não previa essa superunificação. Às vezes gera um impacto ao estilo dessa rua, que perde a sua característica comercial - informa Pedro Borio, secretário de Cultura do DF.

Há ainda os que reclamam previamente por conta do trânsito. É o caso do major Rogério Soares, chefe de comunicação do Corpo de Bombeiros. Segundo ele, a aglomeração torna o trânsito caótico, dificultando a passagem das viaturas.

- O acesso a áreas de grande movimento é prejudicado - relata, informando que as novas viaturas do Corpo de Bombeiros são cerca de 30% mais largas e compridas e não conseguem passar pelos congestionamentos.

Serviço Inauguração da Entrelivros. Hoje, a partir das 18h, com lançamento de livros e apresentação de sarau poético. Acesso livre. Informações: 3202-0010.

Esquina da Palavra: 3039-7979. Só Livros: 443-9314. Sebinho: 447-4444.