Resultado das pesquisas já reduz arrecadação tucana

O Globo, n. 28929, 20/10/2012. O País, p. 6

Datafolha mostra Serra 17 pontos atrás de Haddad, e com rejeição de 52%

SÃO PAULO No dia em que mais uma pesquisa, desta vez do Datafolha, apontou o adversário Fernando Haddad (PT) bem à frente na corrida eleitoral em São Paulo, um clima de perplexidade acometeu a campanha do candidato do PSDB, José Serra (PSDB). A coordenação tucana tinha expectativas de que o Datafolha apresentasse resultado diferente do Ibope de quarta-feira. Mas, segundo o Datafolha, a vantagem é de 17 pontos - Haddad tem 49%, e Serra, 32%. No Ibope, o tucano teve 33%, e o petista, 49%.

Para piorar, as pesquisas estão prejudicando a arrecadação de recursos à campanha, como admitiram alguns aliados de Serra. Apesar dos números desfavoráveis, não havia ontem clima de derrota, mas tucanos admitiram que a situação é difícil. Também ponderaram que ainda há tempo para virar o jogo.

A associação de Serra à imagem do prefeito Gilberto Kassab pela campanha petista foi apontada como possível responsável pelo aumento da rejeição de Serra - que saltou de 42% no primeiro turno para 52% no Datafolha.

Serra buscou afastar o clima de preocupação. Em entrevista, ele disse que os levantamentos, embora desfavoráveis, funcionam como "estímulo" para os militantes e voltou a pôr em dúvida a credibilidade das pesquisas. Disse que levantamentos internos feitos por sua própria campanha mostram um cenário diferente do divulgado nos últimos dias.

Serra negou que as pesquisas tenham potencial para abalar o ânimo dos militantes.

- Pelo contrário. Funciona como balde de água quente, para estimular - afirmou.

O efeito prático da arrecadação baixa está nas ruas. Na semana final da campanha, quando é praxe aumentar o exército de cabos eleitorais e de material publicitário nas ruas, os tucanos estão tendo que fazer contas e trabalhar com um contingente de pessoas bem menor do que o desejável, por causa da falta de dinheiro. Os valores arrecadados até agora não são revelados. O teto de gasto previsto era de R$ 98 milhões. Mas, até setembro, os tucanos haviam conseguido em doações R$ 8,14 milhões.

- Cada pesquisa dessa que sai é menos dinheiro que entra - confidenciou um tucano.

Ontem, Serra visitou, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), um conjunto habitacional feito pelo governo estadual na periferia da Zona Leste, um dos redutos petistas da cidade. O candidato teve que deixar o local mais cedo do que o previsto porque tinha outro compromisso: receber o apoio do goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, no Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu.

Alckmin decidiu continuar sozinho o roteiro de visita que estava previsto para o candidato e fez corpo a corpo pedindo votos para Serra.

A pesquisa Datafolha mostrou queda na expectativa de voto do tucano nas zonas Central e Norte. O único local onde o candidato do PSDB apresentou crescimento foi em parte da Zona Sul, onde Serra passou de 39% para 46%.

Desde 1992, apenas Paulo Maluf (59%) e Fernando Collor (62%) superaram uma taxa de rejeição de 52% na capital paulista. O histórico mostra que nenhum prefeito foi eleito com esse índice de rejeição na cidade.

Para Serra, nada deve ser alterado na estratégia da campanha, exceto pela intensidade das ações. Ao ouvir a declaração de voto de Rogério Ceni, o tucano recorreu a uma metáfora futebolística para mostrar como vê o atual momento da disputa:

- O Rogério é pé-quente. Agora, ele sabe que política é como futebol. Para ganhar, tem que lutar até o último minuto.