Título: Processo turbulento
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 13/12/2005, Economia & Negócios, p. A18

A proposta para venda do controle da Varig pela Fundação Ruben Berta (FRB) ganhou força a partir de maio, quando o conselho de curadores chamou David Zylbersztajn para a presidência do Conselho de Administração da companhia aérea.

O ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) trouxe para a sede no prédio anexo ao aeroporto Santos Dumont executivos do porte de Eleazar de Carvalho, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Omar Carneiro da Cunha, ex-presidente da Shell, Henrique Neves, também ex-executivo da Shell, e o embaixador Marcos Azambuja.

Em um mês, cerca de 10 investidores interessados apresentaram propostas para compra da companhia aérea, entre eles Docas Investimentos, a portuguesa TAP, o fundo americano de private equity Matlin Patterson e a OceanAir, do empresário German Efromovich.

No dia 17 de junho, o grupo de executivos, chamado de ''notáveis'' pela imprensa, apresentou ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) o pedido de recuperação judicial, o primeiro de uma empresa a seguir os moldes da Nova Lei de Recuperação de Empresas.

O objetivo era eliminar o risco de perda de aeronaves, já que credores ameaçavam pedir o arresto de aviões por falta de pagamento de parcelas de leasing. Durante o período de recuperação, os próprios credores optariam por um plano de recuperação que contemplasse a entrada de um novo controlador depois que a companhia deixasse a proteção da nova lei.

Desde a primeira assembléia, na Marina da Glória, no entanto, os interesses dos credores se mostraram praticamente inconciliáveis. Na ocasião, os credores trabalhistas não chegaram a um acordo para eleger os representantes da categoria no comitê que acompanharia a reestruturação.

Na segunda assembléia, Docas Investimentos e o Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) apresentaram suas propostas alternativas ao plano de recuperação criado pela administração da companhia e duramente combatido por credores trabalhistas. Mas a falta de acordo permaneceu até se tornar iminente a perda da proteção da Justiça dos Estados Unidos, já em outubro, contra o arresto de aeronaves por falta de pagamento de parcelas de leasing.

Foi então que o BNDES entrou no jogo e financiou a compra das subsidiárias VarigLog e Varig Engenharia e Manutenção (VEM) por US$ 62 milhões para a Aero-LB, empresa ligada à TAP, ao fundo brasileiro Stratus e ao empresário Stanley Ho, de Macau.

O desgaste causado pela operação, considerada lesiva por grande parte dos credores, levou a Fundação Ruben Berta a retirar o apoio ao grupo de Zylbersztajn. A ação foi considerada perigosa por partes importantes no processo, como o Aerus, que viam a destituição dos administradores como um risco à sobrevivência da Varig em meio a um processo delicado como a recuperação judicial.

Agora, um mês depois da destituição dos antigos administradores, a situação parece se acalmar com o anúncio do acordo entre Fundação e Docas. Só ontem, as ações PN da Varig listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiram 17,05%.