Título: Gasolina mais barata à vista
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 13/12/2005, Economia & Negócios, p. A20

A esperada auto-suficiência da produção de petróleo do país, prevista para o início do próximo ano, contribuirá, segundo o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, para reduzir a vulnerabilidade da economia brasileira frente às oscilações do mercado internacional. Segundo ele, além de afetar positivamente o abastecimento do produto no país, o fenômeno permitirá ''um maior descasamento dos preços internos em relação aos externos''. Analistas do setor avaliam, no entanto, que um descasamento dos preços praticamente sepultaria a abertura do setor iniciada na década de 90. Na prática, se no curto prazo isso poderá beneficiar o consumidor, principalmente em momentos de pico dos preços internacionais, o fim da abertura reforça o monopólio da Petrobras no setor, uma vez que praticamente inviabiliza as importações de petróleo pela concorrência privada.

Gabrielli participou ontem, na sede da empresa, no Rio, da cerimônia de assinatura de um dos três contratos para aquisição da plataforma P-53, que será afretada junto a uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) constituída pela construtora Queiróz Galvão e pelas também brasileiras Ultratec e Iesa. A operação, que envolve um contrato no valor de US$ 520 milhões, prevê o início das operações da plataforma no fim de 2007.

Prevista para produzir 180 mil barris por dia, a unidade será adquirida por meio de um contrato de aluguel por 15 anos para a Petrobras. Ao fim desse período, a estatal terá a opção de adquiri-la em definitivo, segundo Gabrielli, por um valor simbólico de R$ 1.

- A plataforma será fundamental para o esforço da Petrobras de consolidar a auto-suficiência produtiva. Isso porque não basta alcançar essa auto-suficiência. É preciso consolidá-la por meio do aumento contínuo da produção dos campos da empresa em 2007, 2008, 2009 e 2010 - afirmou o presidente da Petrobras.

O consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), adverte que, se posta em prática, a política de preços sinalizada pela diretoria da Petrobras colocaria em risco justamente o futuro da auto-suficiência. Isso porque, segundo ele, a auto-suficiência amplia o risco de a estatal praticar o que ele classificou de ''populismo de preços''.

A médio e longo prazos, adverte, as conseqüências poderiam se revelar negativas não só para o país, como também para a própria Petrobras, que se veria limitada na capacidade de investir em novas reservas de petróleo. Um maior limite aos reajustes de preços, justifica, poderá afetar a geração de caixa da companhia, o que resultaria em menor capacidade de investimentos em novas reservas.

Pires alerta, ainda, que todo esse quadro poderá também resultar na perda da condição de grau de investimento (investment grade) da Petrobras, em função de uma maior percepção de risco da empresa junto ao mercado financeiro internacional. Na prática, isso dificultaria futuras captações junto a bancos e o mercado em geral.

- Isso ocorreu com a Argentina nos últimos anos. Ao restringir os reajustes de preços dos combustíveis, sob argumento de beneficiar a população em geral, o governo (do presidente Néstor Kirchner) reduziu a capacidade de investimentos em novas reservas de gás natural no país. Com isso, a Argentina importará 20 milhões de metros cúbicos da Bolívia, este ano - afirmou Pires.