O Globo, n. 32489, 20/07/2022. Política, p. 10
Damares retira candidatura e Bolsonaro apoiará Flávia Arruda
Alice Cravo
Após o ex-governador José Roberto Arruda (PL) recuperar sua elegibilidade por uma decisão liminar (provisória), o presidente Jair Bolsonaro teve que entrar em campo para arbitrar seu palanque no Distrito Federal. Em uma reunião no Palácio do Planalto, na segunda-feira, ficou acertado que a ex-ministra Flávia Arruda (PL) será candidata ao Senado na chapa do atual governador Ibaneis Rocha (MDB), que disputará a reeleição. E Arruda —marido de Flávia —sairá para deputado federal.
Pelo arranjo, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) precisou retirar a sua pré-candidatura ao Senado, lançada no sábado. Todos os quatro estavam presentes na reunião com o presidente. Ao final do encontro, Arruda, Flávia e Ibaneis desceram juntos para falar com a imprensa. Damares saiu sozinha poucos minutos antes sem dar declarações. Procurada pelo GLOBO a assessoria de imprensa de Damares confirmou sua saída da disputa pelo Senado.
Após uma decisão liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) restabelecer seus direitos políticos, Arruda passou a articular uma nova candidatura ao Palácio do Buriti. A aposta do ex-governador era que o apoio de Bolsonaro seria capaz de fazer frente politicamente a Ibaneis, que figura como favorito na corrida eleitoral local.
As articulações do ex-governador para disputar o Buriti irritaram o emedebista, que decidiu então anunciar a sua chapa sem a presença do PL, selando o apoio à candidatura de Damares ao Senado. Ibaneis tinha um compromisso com Flávia para essa vaga na chapa.
As condenações de Arruda que foram suspensas envolvem o escândalo conhecido como Caixa de Pandora ou Mensalão do DEM, que apurou crimes de corrupção e improbidade administrativa no Distrito Federal. Arruda havia sido condenado com base na antiga Lei de Improbidade Administrativa por suposta compra de apoio político.
Martelo batido
Na segunda-feira, Ibaneis chegou ao Planalto pouco antes das 18h. Ele afirmou a jornalistas que foi chamado de última hora pelo gabinete do presidente. Cerca de uma hora antes, Arruda também chegou ao Planalto.
—Saímos com uma aliança consolidada, dependendo de pequenos ajustes que serão feitos no decorrer da semana — disse Ibaneis, afirmando que também conversará com o Republicanos sobre a chapa.
Pelo cenário exposto, não se sabe ainda como ficará a situação do ex-senador Paulo Octávio, que vinha conversando com diferentes grupos políticos da capital e também pleiteava o apoio do presidente para uma vaga no Congresso, de preferência no Senado.
— A ministra Damares estava presente na conversa e recuou em torno dessa aliança. Então agora é uma definição dela e do partido se sairá a alguma coisa. Essa aliança é no recuo da ministra Damares ao Senado. Dois recuos importantes e fundamentais — disse Flávia, referindo-se também ao recuo do marido na candidatura ao governo.
Arruda já estava sendo aconselhado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a concorrer a uma vaga na Câmara. Ibaneis lançou sua pré-candidatura como um palanque bolsonarista no Distrito Federal e conta com a deputada Celina Leão (PP) para vice. A composição teve a bênção do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP).
Arruda, por sua vez, ainda não tem a sua elegibilidade garantida. A situação deve ser resolvida no próximo dia 3 de agosto, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar se as novas regras da Lei de Improbidade Administrativa têm efeito retroativo, ou seja, se valem para réus condenados antes das alterações, aprovadas em outubro do ano passado.
Aos jornalistas, Arruda afirmou que está “satisfeito” com a aliança e que espera que sua elegibilidade seja mantida até as eleições:
— Eu espero que sim, mas até por isso a candidatura federal é mais conveniente. Se houver algum percalço, que eu espero que não haja, eu não prejudicarei a aliança maior. A aliança maior é entre os dois (Flávia Arruda e Ibaneis), que está selada com o meu total apoio.