Título: Oscar, um arquiteto
Autor: Henock de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 15/12/2005, Outras Opiniões, p. A13

Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares nasceu em 15 de dezembro de 1907. O maior arquiteto do mundo, conhecido como Oscar Niemeyer, faz 98 anos hoje. Carioca das Laranjeiras, pensou em ser jogador de futebol. Acabou optando pela arquitetura. O mundo ganhou um craque da prancheta.

Tudo começou por acaso. Já casado, precisava trabalhar e escolheu a arquitetura porque desenhava bem. Sua atuação profissional iniciou-se lá pelo ano de 1936. A arquitetura contemporânea e o funcionalismo de linhas retas estavam em plena evidência, no rastro da Revolução Industrial. Alguns anos mais tarde, ficaria conhecido por desenvolver um estilo que valoriza a surpresa e o traço curvo. Sobre este estilo ''oscarico'', disse uma vez Le Corbusier : ''Você faz o barroco muito bem, você tem as montanhas do Rio dentro dos olhos''.

O primeiro projeto de sua autoria é a Obra do Berço, na Lagoa, em 1937. Em 1940 conhece Juscelino Kubitschek e desenha o conjunto da Pampulha. Entre 1942 e 1955 desenvolve diversas obras, mas é em 1956 que se inicia a aventura que iria marcar sua obra para sempre: a construção de Brasília. Inaugurada a capital em 1961, Niemeyer parte, apesar do pavor por aviões, a espalhar sua arquitetura pelo mundo: Líbano, Portugal, Israel, França, Argélia e Itália. A ditadura, e principalmente o período do governo Médici, tornam a situação do comunista Niemeyer insustentável por aqui. Com uma permissão de trabalho do governo francês, abre um escritório em Paris, onde permanece trabalhando e recebendo exilados até poder voltar ao Brasil.

Entre outros projetos, são dos anos 80 e 90 : o Museu do Índio; o Panteon da Liberdade e a Procuradoria Geral da Republica, em Brasília; o Sambódromo e os CIEPs, no Rio; o Memorial da América Latina, em São Paulo; o Museu de Arte Contemporânea, o Caminho Niemeyer e a Estação de Barcas de Charitas, em Niterói. E os mais recentes: o Auditório do Ibirapuera, em São Paulo; o Centro Cultural de Duque de Caxias; o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e o Museu do Mar, em Fortaleza. A favela do Vidigal também tem um projeto seu, no Caminho da Boa Vista 119 B está a casa do seu motorista de toda a vida, doada por Niemeyer. Um pequeno exemplo de uma vida repleta de atos de generosidade.

Sobre Niemeyer, escreveu André Malraux : ''O elemento arquitetural mais importante desde as colunas gregas são as colunas do Palácio da Alvorada''. E também José Saramago: ''Alguém disse um dia que uma bela vida pode valer tanto quanto uma bela obra. Tenho o privilégio de conhecer, admirar, estimar e respeitar um homem - Oscar Niemeyer -, referência humana e cultural inseparável de quanto o Brasil teve e tem de melhor, em quem magnificamente se juntaram a obra e a vida, admiráveis uma e outra, edificadoras uma e outra''.

Hoje, aos 98 anos, ele continua trabalhando diariamente em seu escritório no 10º andar do Edifício Ypiranga, na Avenida Atlântica, de frente para o mar de Copacabana, criando, desenhando, escrevendo e denunciando as injustiças do nosso tempo. Sobre sua vida, escreveu um dia: ''Com relação a minha atuação profissional, direi que trabalhei demais, que me sinto um homem que ficou num canto a desenhar sem sentir o universo que o cerca em todas as suas grandezas e mistérios, sem ter tempo para olhar a própria vida e sobre ela divagar, sozinho, como Descartes. Mas estou tranqüilo. Afinal, fiz o que pude fazer e não esqueci os que sofrem e com eles caminho solidário''. Parabéns, querido Oscar, e muito obrigado.