O Globo, n. 32492, 23/07/2022. Política, p. 11

Isolada por Bolsonaro, Damares não desiste

Eduardo Gonçalves
Natália Portinari


Preterida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa por uma vaga ao Senado pelo Distrito Federal, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) diz contar com o respaldo da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para manter sua candidatura. Segundo auxiliares da ex-ministra, a mulher do presidente visitou Damares na última quintafeira em um hospital de Brasília, onde ela está internada para a realização de exames. Na ocasião, Michelle “reforçou” o apoio à postulação da ex-ministra, conforme aliados. A primeira-dama é uma entusiasta da candidatura de Damares ao Senado e, no mês passado, chegou a publicar em suas redes sociais uma declaração de apoio. A ex-ministra, contudo, não têm o respaldo da ala política do governo. Na terça-feira, após reunião no Palácio do Planalto, ela precisou retirar a candidatura para dar lugar à também ex-ministra Flávia Arruda (PL).

A chapa, que terá o governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha (MDB) como candidato à reeleição e Flávia Arruda ao Senado, foi costurada com o aval de Bolsonaro, que definiu este como o seu palanque na capital do país. O presidente queria que a ex-ministra disputasse uma vaga à Câmara dos Deputados, mas ela não teria interesse em ser deputada. Procurada por meio de sua assessoria, Michelle não comentou. Segundo o colunista Lauro Jardim, Bolsonaro ligou para a ex-ministra na última segunda-feira para avisá-la de que que não seria candidata ao Senado. Na ocasião, ela não teria manifestado contrariedade. Caso decida manter a candidatura, Damares pode se lançar de forma avulsa, desde que seu partido, o Republicanos, concorde. Entre integrantes da ala política do governo, Damares é vista como novata na política para disputar um cargo majoritário do porte do Senado.

Segundo interlocutores do governo, internamente, Bolsonaro já havia manifestado sua preferência por Flávia antes de Damares anunciar uma aliança com Ibaneis, que ocorreu na semana retrasada, mas que depois foi desfeita. Antes de integrar o governo, Damares foi assessora parlamentar da bancada evangélica no Congresso. Ela se tornou ministra em razão da proximidade com Michelle na campanha de 2018, quando ainda trabalhava para o gabinete do então senador Magno Malta. Damares planejava viajar pelo Brasil ao lado da primeira-dama durante as eleições. Em relação ao seu quadro de saúde, a ex-ministra passa bem e teve alta hospitalar ontem.