O Globo, n. 32498, 29/07/2022. Política, p. 4
Cenário estável
Marlen Couto
Lucas Mathias
Divulgada ontem, anova pesquisa Datafolha mostra cenário de estabilidade na disputa presidencial apouco mais de dois meses para as eleições,como ex-presidente Lula (PT) mantendo vantagem folgada na liderança (com os mesmos 47% de junho), e o presidente Jair Bolsonaro (PL) oscilando de 28% para 29%. Em votos válidos, Lula teria 52%, ficando na margem de erro a possibilidade de uma vitória em primeiro turno.
Apesar de alguma melhora em estratos do eleitorado onde vinha com números baixos, como entre os mais pobres e mulheres, Bolsonaro não conseguiu ainda converter em intenção de votos anúncios positivos do governo na área econômica, como a redução do preço dos combustíveis e o aumento do valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, que só deve começara ser pago às famílias a partir de agosto.
Na terceira via, o desempenho ficou estável. Ciro Gomes (PDT) segue com 8%, isolado na terceira posição, enquanto Simone Tebet (MDB) soma 2%, apesar do investimento de sua pré-campanha em inserções na TV e publicações patrocinadas nas redes sociais. Já André Janones (Avante), Vera Lúcia (PSTU) e Pablo Marçal (Pros) marcaram 1% cada. Os demais não pontuaram.
Segundo a sondagem, divulgada pelo jornal “Folha de S. Paulo”, Bolsonaro ganhou três pontos percentuais —chegando a 23% — entre os eleitores com renda de até 2 salários mínimos, maior estrato socioeconômico do levantamento. Nesse grupo, Lula tem 54%. O petista também segue na frente entre aqueles que ganham entre 2 e 5 salários, com 40% ante 34% de Bolsonaro.
Para Ciro Gomes e Simone Tebet,a cristalização da polarização liga o sinal dealer ta e a aposta agora passara sera maior exposição que a disputa eleitoral passará ater para os brasileiros no próximo mês, com o início formal da campanha e dos programas de TV.
Os recortes da pesquisa sinalizam ainda alguma recuperação de Bolsonaro entre as mulheres. OD ata folha mostrou alta de seis pontos percentuais em suas intenções de votoLula, no entanto, ainda lidera no segmento com 46%, enquanto o presidente marca 27%. As mulheres têm recebido atenção especial da pré-campanha de Bolsonaro, que aposta na maior participação da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Entre os homens, a tendência é inversa: o petista soma 48% contra 32% do atual presidente.
No segmento evangélico, por suavez, Bolsonaro ampliou su avantagem. O pré-candidato do P L, que investiu recentemente em agendas com evangélicos pelo país, tem 43% dos votos. No último levantamento, tinha 40%. Já Lula marca 33% nesse grupo (tinha 35%). Na estratificação regional, o petistas e gu eà frente no Nordeste (59% a 24%). No Sudeste, Lu latem 43%, e o presidente marca 28%. No Norte, Bolsonaro empata tecnicamente com Lula (39% contra 41% do petista).
Avaliação interna
Integrantes da campanha de Bolsonaro minimizaram os números da pesquisa. Em sua live, o próprio presidente afirmou que não esperava um resultado melhor neste momento. Para ele, medidas adotadas por seu governo só deverão surtir efeito no mês que vem.
— Eles (aliados) acham que a virada vai ser no final de agosto, principalmente com Auxílio e (propaganda eleitoral) na TV —disse.
Já a campanha de Lula avaliou como positiva a divulgação sobre o aumento do auxílio não ter resultado em votos para Bolsonaro. A dúvida agora é se haverá impacto quando o pagamento do benefício turbinado começar. No comando da campanha petista, o crescimento do presidente entre as mulheres foi minimizado.
O cientista político Josué Medeiros, da UFRJ, concorda que é cedo para que as medidas econômicas surtam efeito. Para ele, o crescimento de Bolsonaro entre mulheres pode ter relação com o eleitorado evangélico:
— A variação pode ter a ver com agendas como a Marcha para Jesus, em que há também idas a igrejas. Outro ponto é a notícia do pagamento do auxílio, que pode já chegar no WhatsApp. Mas é cedo para cravar.
O Datafolha entrevistou entre quarta-feira e ontem 2.556 eleitores em 183 municípios. A pesquisa foi registrada sob o protocolo BR-01192/ 2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais, e o índice de confiança é de 95%.