Título: Denúncia de boca-de-urna na votação
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 16/12/2005, País, p. A3

O deputado Mauro Passos (PT-SC) acusou ontem o peemedebista Oswaldo Biolchi (PMDB-RS) de ter feito campanha de boca-de-urna durante a sessão da Câmara em que foi votado o pedido de cassação do mandato de Romeu Queiroz (PTB-MG), que acabou absolvido.

Passos solicitou, por meio de representação à Mesa Diretora da Câmara, a cassação do mandato de Biolchi. Segundo Passos, o peemedebista teria entregue cédulas de votação com indicação de voto ''não'' (favorável a Queiroz) a deputados que se encontravam na fila de uma das cabines onde se encontravam as urnas.

- Fui assediado pelo deputado Biolchi, que me entregou um envelope com voto não - disse Passos. - Recusei e avisei ao Inocêncio Oliveira (PL-PE que presidia a sessão) - completou.

Passos citou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) como sua testemunha no episódio.

- Confirmo plenamente. Houve boca-de-urna para a votação do ''não''. Vi quando Biolchi pegou uma cédula e deu para o deputado Passos - disse Alencar.

Segundo o parlamentar do PSOL, os deputados petistas Antonio Biscaia (RJ) e Ricardo Berzoini (SP) também teriam presenciado.

O deputado Oswaldo Biolchi negou as acusações. Explicou que foi empurrado quando estava na cabine de votação e acabou saindo do local com uma cédula na mão.

Representantes de entidades civis engrossaram o coro na condenação da decisão do parlamento em absolver o petebista. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Octávio Gomes, lembrou que o deputado Romeu Queiroz perdeu por 12 a dois no Conselho de Ética, mas ganhou no plenário com uma vantagem superior a 50 votos.

- É sinal de que prevaleceu o corporativismo, em detrimento do Poder Legislativo, que fica ainda mais desgastado. O resultado é lamentável, porque o povo perde a esperança na ética e na política - comentou.

O presidente da ABI, Maurício Azêdo, creditou o resultado ''e outros que virão'' ao que chamou de ''insuficiência das próprias comissões em apresentar provas mais concretas nas investigações''.

O diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, classificou a absolvição de ''escárnio''.

- A Câmara perdeu a racionalidade ao inocentar um deputado flagrado sacando R$ 350 mil do valerioduto.

O vice-presidente da Firjan, vice Carlos Fernando Gross, classificou de preocupante o resultado da votação.

- Desmoraliza a política. Houve um corporativismo em um crime eleitoral declarado. O saque do dinheiro de forma irregular.