Título: Nas urnas, a esperança iraquiana
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/12/2005, Internacional, p. A10

Os iraquianos foram às urnas ontem para eleger o Parlamento que irá governar o país nos próximos quatro anos, marcando o fim do período de transição política desde a queda do regime de Saddam Hussein. Os representantes eleitos devem participar do processo de retirada dos Estados Unidos, já que estarão no poder até 2010, e, nas suas mãos, está o novo Iraque. Os xiitas, que ganharam a maioria na Câmara na administração interina, eleita em janeiro, devem continuar dominando depois do pleito de ontem, que teve alto índice de participação e aconteceu sem incidentes graves.

Estima-se que de 60% a 80% dos 15 milhões de eleitores compareceram às sessões eleitorais. Até mesmo os sunitas, que boicotaram a votação de janeiro, desta vez participaram tanto como candidatos quanto eleitores.

De uma lista de 7.655 candidatos, 275 deputados serão escolhidos. Deste total, 45 cadeiras estão reservadas para as comunidades minoritárias.

Entre os principais grupos políticos na disputa, estão a conservadora Aliança Iraquiana Unida (AIU), vencedora das últimas eleições e liderada por Abdelaziz al Hakim, líder do principal grupo xiita do Iraque; a Lista Curda; a Lista Iraquiana Nacional, do ex-primeiro-ministro xiita Iyad Allawi; e as coligações sunitas Frente de Consenso Iraquiano e Frente Iraquiana para o Diálogo Nacional. Ao todo, são 307 partidos e 19 coligações.

Os xiitas da AIU provavelmente levarão, o maior número de cadeiras, indicando um governo conservador, fortemente influenciado pela Sharia, a lei islâmica. A coligação tem hoje 51% do Parlamento.

No entanto, segundo uma pesquisa informal, feita após o fechamento das urnas, os religiosos da AIU terão de conviver com o bloco xiita secular, de Allawi, que teve votação expressiva entre 500 eleitores entrevistados. Em janeiro, o grupo do ex-premiê teve 14% dos votos.

Há ainda os sunistas, que tomarão algumas cadeiras dos demais grupos. Dependendo da participação dos eleitores, poderão ocupar de 10% a 18% do Parlamento, segundo especialistas. Os curdos, por sua vez, devem conquistar entre 13% e 20% das cadeiras.

Em Faluja, localidade sunita, chegou a faltar cédulas devido à expressiva participação, atrasando o fechamento das sessões. Também em outras regiões, a votação chegou a ser prorrogada por uma hora, para que todos pudessem votar.

- Os habitantes de Faluja irão votar de joelhos se for preciso, pois esta eleição é muito importante para nós - disse o engenheiro Amr Hamed.

Já nas regiões xiitas o clima era de festa. Os eleitores fizeram longas filas nos centros de votação. Em Najaf (Centro) e em Basra (Sul), moradores começaram a comemorar a ''vitória'' da AIU.

Segundo a Comissão Eleitoral, que iniciou a apuração dos votos ontem, os resultados serão conhecidos em duas semanas. O Parlamento eleito escolherá, por maioria de dois terços, o novo presidente, que apontará o primeiro-ministro.

Foram poucos os incidentes violentos durante o dia, apesar das ameaças de grupos insurgentes. Dois iraquianos morreram e nove pessoas, entre elas um soldado americano, ficaram feridas na queda de um obus de um morteiro na Zona Verde, o perímetro protegido de Bagdá. O ataque foi reivindicado pelo ''Exército da Comunidade Vitoriosa'', vinculado à Al Qaeda.

O general George Casey, comandante do Exército americano no país, afirmou que a ''insurgência não acabará'', mas ''se reduzirá gradualmente''.