Título: Casamento ainda seduz os brasileiros
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 17/12/2005, País, p. A6

Para uma instituição considerada por muitos fracassada, o casamento deu mostras no ano passado de que ainda consegue mobilizar um número significativo de casais. É o que mostra as Estatísticas do Registro Civil do IBGE, de 2003 para 2004, divulgadas ontem pelo instituto. Os dados apontam aumento de 7,7% no número de matrimônios oficializados em cartórios no Brasil. Foram 806.968 casamentos, o maior número desde 1994.

Entre os recém-casados de 2004, há também um número crescente, em comparação com 1994, dos que já estão na segunda tentativa. São viúvos ou divorciados que voltaram a se casar. Em 1994, 8,3% dos casamentos tinham ao menos um cônjuge divorciado ou viúvo. Dez anos depois, a proporção chega a 13,6%.

Segundo os técnicos do IBGE o aumento do número de casamentos não tem nada de romântico. Eles explicam que a principal causa são as campanhas de casamentos coletivos realizadas em muitos municípios por prefeituras, cartórios e igrejas para regularizar a situação de casais que já viviam em união consensual, mas que não haviam oficializado a situação.

Já no que diz respeito ao aumento do casamento com divorciados, há uma explicação matemática e outra comportamental. A explicação matemática é que de 1994 para 2004 vem aumentando o número de divórcios no país. Em números, de 95 mil para 131 mil, uma variação de 37,7%. Com mais divorciados no ''mercado matrimonial'', aumentam, conseqüentemente, as chances de um parceiro divorciado encontrar outro na mesma situação.

A explicação comportamental é identificada como a quebra gradual de um tabu na sociedade.

- Até bem pouco tempo, tratava-se o fim do casamento como um tabu e as pessoas divorciadas eram vistas com preconceito, principalmente as mulheres. Hoje, a sociedade já aceita com mais naturalidade o divórcio e o segundo casamento - analisa Cláudio Crespo, gerente de Estatísticas Vitais e Estimativas Populacionais do IBGE.

Um novo casamento para um viúvo ou divorciado, no entanto, é mais provável para um homem do que para uma mulher. Dos 807 mil homens que se casaram no ano passado, 10,0% (80,7 mil) deles eram divorciados ou viúvos. Entre as mulheres, essa proporção cai para 6,4% (51,6 mil). Há também duas explicações principais para essa desigualdade a favor dos homens. A primeira é que o preconceito pode continuar sendo maior com relação a mulheres. A segunda é que há um excedente feminino na população, principalmente entre adultos e idosos. Ano passado, havia 4,7 milhões a mais de mulheres no Brasil em relação aos homens.

Entre os casamentos que terminaram ano passado com separações judiciais, o IBGE constata que o tempo médio de duração foi de 11,5 anos. O número de separações judiciais concedidas em 2004 foi 7,4% menor do que em 2003. O resultado interrompe uma trajetória de crescimento gradativo que vinha ocorrendo desde 2000. Em 2004, ocorreram 93.525 separações judiciais. O resultado é superior ao de 1994, de 84.805 separações. O volume de divórcios caiu 3,7% em relação a 2003.

Para o IBGE, o aumento de divórcios em relação ao de separações judiciais entre 1994 e 2004 é mostra mudança de comportamento da sociedade, que passou a aceitá-lo com maior naturalidade.