Título: Bush faz espionagem ilegal
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/12/2005, Internacional, p. A9

Sob ordens do presidente George Bush, a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, monitora secretamente, desde 2002, ligações e e-mails de civis americanos que se comunicam com o exterior, denunciou, ontem, o jornal The New York Times. A prática, estabelecida logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, ilegal.

Cerca de 500 pessoas são vigiadas atualmente no país. ''A lista de monitorados muda de tempos em tempos, e, por isso, pode chegar aos milhares'', desde que Bush assinou a ordem executiva, disseram funcionários da agência americana. Fora dos EUA, são entre 5.000 e 7.000 suspeitos de atividades terroristas que têm suas comunicações internacionais rastreadas.

O NYT afirma ter descoberto a ampliação do programa de espionagem há um ano, mas teria aceitado o pedido da Casa Branca para não publicar as informações, evitando atrapalhar o as investigações.

Os próprios funcionários da NSA questionam a legalidade da espionagem, tida como uma necessidade para o combate ao terror. Membros da agência, que pediram anonimato, se disseram ''preocupados''. Até mesmo o senador John D. Rockefeller, vice-diretor do Comitê de Inteligência no Senado, afirmou ter ''reservas'' quanto à operação.

A Casa Branca, por sua vez, não respondeu nem desmentiu a denúncia:

- Não pretendo debater atividades de inteligência vinculadas à segurança de nossa nação e aos esforços que empreendemos para impedir ataques - disse o porta-voz, Scott McClellan.

Já para a secretária de Estado Condoleezza Rice, o presidente ''atuou de forma legal a cada decisão que tomou para defender o povo americano, conforme a sua responsabilidade constitucional''.

No mesmo dia da denúncia, um grupo bipartidário do Senado bloqueou a extensão do Ato Patriota - medidas antiterroristas válidas até o dia 31 deste mês e aprovadas após o 11/9 -, por considerar que a lei viola a privacidade e as liberdades civis dos americanos. A votação não garantiu os 60 votos necessários para a prorrogação da validade do texto - foram 52 votos a favor e 47 contra - e terminou como um golpe para Bush.

A denúncia do NYT esquentou ainda mais o debate a favor dos críticos da lei, como o senador democrata Russ Feingold, o único a votar contra o Ato em 2001:

- Não quero escutar de novo do procurador que o governo é confiável para usar todo o poder que damos a ele - disse.

Para o republicano Bill Frist ''há mais motivos para temer o terror do que o Ato Patriota'':

- Temos uma escolha: avançar contra o terror para fazer a América mais segura ou recuar.

Há, ainda, a possibilidade de se chegar a um consenso sobre os pontos mais polêmicos da lei até o dia 31, quando expira o documento. Se isso não ocorrer, no dia 1° de janeiro, o Ato Patriota (principal arma do governo republicano na guerra ao terror) estará suspenso.

Entre as maiores divergências para tornar a lei permanente estão o grampo de telefone, o monitoramento de e-mails e o controle de aluguel de livros em bibliotecas.