Título: ''Pensei que ela estava ferida pelo vidro''
Autor: Ana Paula Verly
Fonte: Jornal do Brasil, 17/12/2005, Rio, p. A11

Abatidos e muito emocionados, parentes de Ivone se revezaram durante todo o dia na Clínica Pinheiro Machado, em Laranjeiras. À tarde, o filho da artista, o administrador André Mimio, 23 anos, ainda não acreditava no episódio a que assistira de madrugada. - Estávamos eu, minha mãe e meu pai, vendo TV, quando ouvimos a janela estilhaçando. Corri para ver o que era e me deparei com um buraco e vários cacos espalhados pela sala. Ao virar de volta, minha mãe estava com cara de dor, segurando o ferimento, que já sangrava. Achamos que ela tinha sido ferida pelo vidro. Na hora, não veio à cabeça que pudesse ser um tiro. Ficamos preocupados e a levamos para o hospital. Somente no caminho, quando me aproximei mais dela, me dei conta de que tinha sido baleada. Estamos todos em choque. Não esperávamos que uma coisa dessa nos acontecesse dentro de casa, aquela hora. Ficamos com muito medo, mas não pensamos em blindar as janelas. Essa não é a solução para nos livrar da violência. O importante é que ela está bem e tranqüila - desabafou, ainda nervoso, o jovem, que vive no local com os pais e um irmão. Chorando muito, a irmã dele não quis falar sobre o caso, assim como o marido da vítima. Ivone tem um ateliê de artes plásticas no Flamengo.

No dia 21 de novembro, em Laranjeiras, bairro vizinho, um homem foi atingido por uma bala perdida na Rua Coelho Neto, apontada por moradores como um dos locais mais prejudicados pela falta de policiamento. Na ocasião, a polícia também não conseguiu descobrir de onde partiu o tiro que feriu de raspão na cabeça Nilton Blanck Rottman, 47 anos, por volta das 22h. Não houve registros de tiroteios ou disparos acidentais na região naquela noite.