Título: Próximo desafio é convencer juiz nos EUA
Autor: Rafael Rosas e Luiz Orlando Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 20/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

Apesar de a assembléia de ontem não ter valor legal, os credores da Varig aprovaram o plano de recuperação judicial apresentado pelo presidente da empresa, Marcelo Bottini. O projeto prevê a criação de quatro Fundos de Investimento e Participação (FIPs), formados por credores e investidores interessados em participar do capital da companhia. Haverá um FIP-Controle, que aglutinará investidores dispostos a colocar dinheiro novo na companhia. O FIP-Controle terá participação nos FIPs-Crédito, constituídos a partir da conversão de dívidas em fatias da Varig.

Entre os principais pontos da reestruturação estão a adequação das receitas operacionais à utilização de 63 aeronaves no primeiro semestre de 2006, com uso de 69 entre julho e dezembro, cobertura de todas as despesas correntes a partir do ano que vem, recuperação da margem operacional, que deve passar dos 4,6% negativos em 2005 para 8,6% positivos em 2010 e crescimento constante do fluxo de caixa operacional.

- Já fizemos muitos planos que não foram implementados. Este será. A partir de 2006, a empresa pagará todos os compromissos correntes e os assumidos - garantiu Bottini, em meio a aplausos da platéia, formada em sua maioria por funcionários da companhia.

A Varig se compromete ainda a entregar a redação final do plano em 25 de janeiro e determina que uma nova assembléia de credores delibere sobre o projeto em 31 de janeiro.

A conversão será opcional. Os credores trabalhistas que não quiserem entrar nos FIPs terão diferentes formas de pagamento. Os aeroviários receberão os créditos sem alterações. Os aeronautas terão o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço pago conforme contratos celebrados com a Caixa Econômica Federal, enquanto os funcionários que optaram pelo Programa de Incentivo à Aposentadoria receberão segundo as condições pactuadas.

Entre os credores com garantia, o Aerus terá pagamento integral conforme a última repactuação feita. Os demais receberão em sete anos, com 36 meses de carência. Para os que tiverem dívida em moeda estrangeira, a correção será feita pela variação do dólar, mais 4,75% de juros anuais. Para as dívidas em reais, a correção será IGP-M mais 4,75% anuais. Na classe 3 o pagamento será feito em 10 anos, com carência de 36 meses. Para as dívidas em dólar e em reais, a correção será semelhante ao pagamento da classe 2.

O plano também prevê que a atual diretoria terá mandato estipulado por um comitê de credores. Depois da formação dos FIPs, que serão administrados por um banco comercial, o comitê escolherá um gestor, provavelmente do FIP-Controle.

Ao final da assembléia, entre abraços e comemorações pela aprovação, Bottini afirmou que a próxima tarefa é convencer o juiz Robert Drain, da Vara de Falências de Nova York, que a empresa ganhou oxigênio, com o objetivo de evitar o arresto de aviões. Sobre a legalidade da assembléia, desconversou.

- Isso só a Deloitte pode responder. (R.R.)