Título: PMDB de olho na candidatura tucana
Autor: Sérgio Prado e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 18/12/2005, País, p. A4

O ex-ministro e deputado federal peemedebista Eunício Oliveira (CE) dirigiu-se ao líder do governo, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) e disse: ¿ Chinaglia, eu não me surpreenderia se o PMDB optasse por apoiar o candidato dos tucanos na eleição para presidente no ano que vem.

¿ Mas por quê? ¿ perguntou com certa perplexidade, Chinaglia (PT-SP).

¿ Com os maus-tratos de seu partido nos estados e, se a verticalização for mantida, o PMDB pode muito bem mudar de rumo ¿ explicou Eunício Oliveira.

¿ Não me diga uma coisa dessas ¿ replicou o líder Chinaglia.

¿ Pois é a mais dura realidade, infelizmente ¿ completa Eunício.

Este diálogo, testemunhado pelo presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB), e pelo líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), ocorreu terça-feira, num jantar na residência de Aldo. Presente à mesa, o anfitrião permaneceu calado o tempo todo. Limitou-se a cofiar o bigode.

Antigo encarregado da articulação política do governo, Aldo Rebelo conhece muito bem o faro de Eunício Oliveira, que foi ministro das Comunicações de Lula e, muitas vezes, personagem de destaque na tentativa de azeitar o diálogo entre o Planalto e o Congresso.

Eunício é pragmático. O peemedebista acalentava o desejo de se lançar ao Senado pelo Ceará numa chapa encabeçada pelo ex-prefeito de Sobral, Cid Gomes (PSB), e o petista Hilário Marques (PT) de vice. Mas o PT bate o pé pela candidatura própria no estado, o que detona seus planos se for mantida a regra pela qual as alianças nos estados devem reproduzir as estabelecidas no plano nacional.

A situação não é isolada. A exemplo de Eunício, outras lideranças do PMDB ligadas ao governo Lula ensaiam embarcar na nau tucana, se forem mantidas as inconveniências eleitorais nos estados com a verticalização.

Com alguns integrantes do PMDB as conversas avançaram ¿ segundo um emplumado tucano ¿ à sombra da queda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenções de votos divulgadas durante a semana. Além da manutenção da verticalização, o resultado da pesquisa CNI/Ibope, que apontou pela primeira vez a vitória do prefeito de São Paulo, José Serra, num primeiro turno contra Lula, e a perda de musculatura política do presidente em faixas da população onde até então ele se mostrava inabalável, teria sido decisivo para o avanço das articulações entre peemedebistas e tucanos.

Os incautos já falam em composição formal se o partido descartar a tese da candidatura própria ou não carimbar o passaporte para o segundo turno. Os peemedebistas menos afoitos discutem ¿alianças de governabilidade¿ para 2007.

Durante a semana, o deputado Geddel Vieira Lima (BA), um dos expoentes do PMDB oposicionista, chegou a brincar com o vice líder do governo no Senado, Ney Suassuna, sobre a possibilidade de ele se tornar ministro num eventual governo tucano a partir de 2007. Durante a gestão FHC, Suassuna chegou a ocupar a pasta da Integração Nacional.

¿ Em política tudo cabe. Ainda mais quando a perspectiva de vitória é clara ¿ resume o senador, sem nenhuma cerimônias.

O líder do governo no Senado, senador Aloizio Mercadante (PT), considera o PMDB o aliado preferencial. Mas reconhece a dificuldade de se fechar um acordo para 2006 com o partido tradicionalmente dividido. Em 2002, depois de ensaiar a candidatura própria, a exemplo de hoje, o partido indicou a então deputada Rita Camata (ES) para vice do candidato José Serra (PSDB). A ala oposicionista do partido, contrariando a decisão da convenção, marchou com Lula. O petista ganhou as eleições mas a vitória não impediu que o hoje presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, um dos pesos pesados do palanque de Serra, migrasse para o governo na condição de um dos mais fiéis aliados.