Título: Carta será prioridade de governo
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 18/12/2005, Internacional, p. A7

Outra questão sensível na Bolívia é a convocação de uma Assembléia Constituinte para a reformulação da estrutura democrática nacional, com maior participação indígena. Por ser também uma Carta que vai regular a soberania, inclusive aquela sobre os recursos naturais, é possível que, se eleito, o primeiro ato de governo de Evo Morales seja solicitar a Constituinte.

- Assim, adia o problema crucial destes últimos anos no país, que é a distribuição da renda do petróleo e do gás, a nacionalização da energia. O fato é que seu primeiro gesto será às massas - sustenta o cientista político da Universidade de Brasília José Flávio Sombra Saraiva.

Para o analista boliviano Gustavo Pinto, da Universidade Católica de Cochabamba, o líder cocaleiro vai priorizar ''a abolição do modelo neoliberal da economia''.

- O MAS tem uma concepção muito estadista do que é a economia. E vai satisfazer quem quer viver dos recursos do Estado - critica.

Além disso, crê Pinto, Evo dará preferência a representantes dos setores indígenas, ao convocar a Constituinte. O alerta é que este ato pode ampliar o preconceito existente na sociedade.

- Setores da classe média e empresariais ficarão marginalizados no processo.

Neste cenário, um governo de conciliação nacional parece irreal. E a pressão pode sim ressurgir nas ruas.

- Morales vai precisar da ajuda de intermediários como Brasil, Argentina e Venezuela - acredita Saraiva.