Título: 'O crime está no meu sangue', diz J., 17 anos
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 18/12/2005, Cidade, p. A26

Amigos de infância, quando ainda brincavam no Morro da Providência, no Centro, três adolescentes com idades entre 15 e 17 anos tiveram um reencontro atrás das grades. Eles estão internados no Educandário Santo Expedito, em Bangu. Acusados de roubo, os jovens esperam o dia da liberdade. Para os três, no entanto, a distância do educandário tem significado diferente. J., 17 anos, não pretende se afastar do crime. T., 15, quer arrumar um emprego de office-boy para ajudar a mãe e R., 16, quer trabalhar num banco. - O crime está no meu sangue. Meu pai é seqüestrador. Vou sair daqui, mas depois volto. Ficar preso em Bangu será muito mais fácil - diz com naturalidade J., que trabalha como assaltante desde os nove anos.

Abraçados, os três amigos contam que roubaram por motivos distintos. R. queria arrumar dinheiro para fazer uma festa do Dia das Crianças para o sobrinho.

- Rodei roubando um pedestre em Botafogo. O pior é que o cara só tinha R$ 20 e uma aliança - conta R., que já está na instituição há mais de um ano e, segundo ele, nunca recebeu uma visita dos parentes.

Segundo o adolescente, durante o tempo que está na instituição, ele foi atendido por médicos apenas três vezes. Ele reclama de dores no peito. T., que reclama da alimentação servida três vezes ao dia, também está na instituição depois de ter sido flagrado roubando um carro.

- O governo não dá oportunidade de emprego para o menor e é por isso que ele entra nessa vida - discursava J. enquanto ganhava o consentimento de outros adolescentes na sua volta.

Durante visita do JB na instituição, os adolescentes jogavam bola numa quadra. Segundo funcionários da unidade, todos estão matriculados na escola. Eles receberiam cursos profissionalizantes e esportes quando não estão em aula. Os horários das aulas e cursos são divididos de acordo com a facção criminosa dos menores: Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos. Os adolescentes, no entanto, confirmam apenas que estudam. Segundo eles, apenas alguns menores são escolhidos para aulas em cursos profissionalizantes.

- Aqui deveria ter cursos de mecânica, informática, serralheria. Seria um jeito para mudarmos de vida - sugere outro adolescente que está prestes a concluir o ensino fundamental.

Os adolescentes também reclamaram da falta de higiene nos alojamentos. Segundo eles, há muita sujeira no local.

- Tem ratos, baratas e lacraias nos alojamentos - reclama outro menor.

A direção do Degase não permitiu a entrada da equipe do Jornal do Brasil nos alojamentos, alegando que a proibição seria por motivos de segurança.