Título: Comércio de rua investe na sedução
Autor: Florença Mazza e Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 18/12/2005, Rio, p. A27

A badalação natural de Ipanema e Leblon ganha tons diferentes a uma semana do Natal. No vale-tudo para tirar a clientela do shopping e trazê-la para o comércio de rua, donos de lojas inovam nos mimos aos consumidores. De delivery de sacolas a taças de champanhe, cada grife inventa sua moda. Nas calçadas, malabares e animadores somam-se ao tradicional tapete vermelho. Tudo para atrair mais clientes que flanam por aí. A expectativa das associações comerciais de Ipanema e Leblon é vender 10% a mais em comparação com o Natal do ano passado. Mas para atingir a meta, empresários desdobram-se para agradar os consumidores - com mordomias para lá de requintadas. Não é para menos: pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), feita com 268 pessoas no Rio de 22 de novembro a 2 de dezembro, indica que o comércio de rua é o preferido dos que ganham mais de 20 salários-mínimos (40% dos entrevistados).

A Mixed, por exemplo, que já oferecia trufas às clientes, encomendou um panetone especial ao chef Danio Braga para as freguesas beliscarem.

- Eu e minha mãe fazemos todas as compras por aqui. É mais agradável do que o shopping. Você pára o carro e faz tudo a pé, ao ar livre, sem aquela aglomeração de gente - opina a estudante Alessandra Wilcox, 18 anos. A dona-de-casa Márcia Kruger é outra que prefere as calçadas de Ipanema aos corredores de shopping. Na última quinta, ela tomava café em uma loja, enquanto sua filha comprava os últimos presentes.

- Tenho medo de incêndio e para a Barra não vou de jeito nenhum - explica Márcia, fã do astral de Ipanema.

De olho nesse público que adora flanar pelas calçadas, a Wöllner repetiu este ano a inciativa do Natal passado: um caminhãozinho faz o delivery das compras na casa do cliente, sem qualquer custo adicional.

- As pessoas não gostam de ficar andando pela rua com mãos cheias de sacolas - explica Lauro Wöllner, sócio da loja, que em dezembro abre aos domingos.

Nas calçadas, as novidades se repetem: na esquina das ruas Visconde de Pirajá e Maria Quitéria, malabaristas da Escola Nacional de Circo usavam bola de cristal, bandeirolas e peças de boliche para chamar a atenção do público na tarde da sexta-feira. Segundo Leila Frydman, coordenadora da apresentação de rua, de cada dez pessoas abordadas, cinco foram até a loja Melissa receber um brinde. Sábado, os malabarismos se repetiram na Praia de Ipanema e hoje vão percorrer o calçadão do Arpoador ao Leblon.

Se não bastassem a criatividade dos comerciantes e o requinte de suas lojas, este ano, pela primeira vez, a Associação dos Amigos da Garcia D'Ávila colocou cinco anúncios em jornal convocando fregueses.

- O bom do comércio de rua é poder flanar pelas calçadas. É mais amistoso, você encontra os amigos - observa Bruno Pereira, diretor da associação.

Supervisora da Leeloo, que também abre hoje das 11h às 17h, Elaine Mattoso observa que a clientela de Ipanema é diferente das outras oito lojas.

- São meninas que moram ou trabalham aqui, que param para fazer compras quando estão voltando da praia.

A assistente social Tania Jardim, 35 anos, escolheu fazer as compras de Natal deste ano nas ruas do Leblon para fugir dos ''incômodos do shopping'', como ter de procurar vaga no estacionamento ou não poder aproveitar ao ar livre..

- Percebo que a concorrência com os camelôs e os shoppings é grande, então o comércio de rua inventa atrativos, como promoções ou Papai Noel para as crianças - explica Tania, comprovando a teoria da presidente da associação de moradores do bairro, Evelyn Rosenweig:

- O comércio de rua tem charme. No Leblon, os moradores costumam comprar aqui mesmo, o que é muito salutar e cria boas positivas, afinal os lojistas investem para obter retorno.

Com Duilo Victor