Título: Caixa 2 resiste a financiamento público
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 19/12/2005, País, p. A6

A proposta de financiamento público de campanha, apontada como a solução para o caixa dois dos partidos, deve apenas inibir o uso de dinheiro não declarado nas eleições. Alguns empresários, mesmo desanimados com o financiamento de políticos após os escândalos de corrupção, admitem que continuarão patrocinando campanhas ''por fora''.

Segundo empresários ouvidos pelo Jornal do Brasil, caso o financiamento público seja aprovado, há outras formas de apoiar candidaturas, como a disponibilização de funcionários, carros e combustível, sem falar no dinheiro não declarado, que continuaria a existir.

A opinião é reforçada por quem tem experiência em campanhas políticas: donos de empresas, interessados em contrapartidas, continuarão financiando candidatos de alguma forma.

Há ainda os que defendem o direito de doar legalmente, o que estaria proibido:

- É legítimo o meu direito de financiar um candidato que apóie o meu setor, que esteja disposto a aprovar leis como redução de impostos. Só acho que tem que ser declarado, no caixa 1 - destaca Claudio Nasajon, fundador da Nasajon Sistemas e vice-presidente da Associação Brasileira de Informática.

Claudio acrescenta que já financiou legalmente campanha, mas se arrependeu porque o candidato, uma vez eleito, não cumpriu as promessas feitas ao setor. Mas, ainda assim, defende que o empresariado possa doar para candidatos proporcionais no legislativo.

O deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ), autor do projeto de lei do financiamento público, diz que, atualmente, 90% dos recursos usados nas campanhas políticas não são declarados. Com o dispositivo, ele acredita que no mínimo 80% dos gastos serão controlados.

- A Justiça eleitoral poderá controlar de perto o gasto dos partidos. Hoje é impossível acompanhar a campanha de 350 mil candidatos - explica.