Título: Dois corpos encontrados em Paranaguá
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2004, País, p. A-5

Mancha de óleo chega a 18 quilômetros de extensão e dois tripulantes continuam desaparecidos. Pesca foi proibida na região O Corpo de Bombeiros localizou ontem os corpos de dois tripulantes do navio BTG Vicuña, de bandeira do Chile, que explodiu na noite de segunda-feira, no Porto de Paranaguá, no Paraná. Duas pessoas continuavam desaparecidas até o início da noite de ontem. O acidente causou danos ambientais na baía de Paranaguá, considerada um importante berçário de espécies marinhas. À tarde, foram localizadas manchas de óleo (o navio carregava 1,5 milhão de litros de óleo tipo bunker, usado para locomoção) espalhadas por uma extensão de até 18 quilômetros.

Em razão da contaminação do mar, o Ibama e o Instituto Ambiental do Paraná baixaram uma portaria proibindo a pesca, banhos, uso da água do mar e esportes náuticos na baía por um período indeterminado. A Capitania dos Portos interditou o terminal de líquidos inflamáveis - onde ocorreu o acidente - também por prazo indefinido.

O acidente ocorreu quando o navio descarregava 14,26 milhões de litros de metanol, no píer da Cattalini Terminais Marítimos, que é privado e não sofre ingerência direta da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), controlada pelo governo do estado do Paraná.

Foram duas explosões seguidas, entre as 19h30 e às 20h de segunda-feira, que fizeram um rombo no casco. O meio da embarcação afundou. A popa - onde ficam casa das máquinas, cozinha e alojamentos - e parte da proa ficaram fora d'água, queimando.

O cais da Cattalini é vizinho ao da Petrobras, e os dois ficam a cerca de 300 metros do bairro Rocio, onde acontecia uma festa para a padroeira. Cerca de 3 mil pessoas estavam na praça da igreja na hora das explosões.

O comandante dos portos do Paraná, capitão Osmar Prado da Cunha, contou que a Polícia Federal e a própria Capitania farão as investigações das causas.

A tripulação do Vicuña era composta de 31 marinheiros, a maioria de nacionalidade chilena. Dos quatro tripulantes que são dados como mortos, um é argentino, e os demais, chilenos. O primeiro corpo foi encontrado boiando no mar por volta das 9h de ontem. O segundo foi localizado na saída da baía, pouco antes das 16h. Oficiais da Defesa Civil do Estado e do Corpo de Bombeiros disseram acreditar que dois dos tripulantes possam ter morrido dentro da embarcação. Cerca de cem policiais e técnicos ambientais atuaram ontem no rescaldo do acidente. Foram movimentadas quatro barcaças com canhões de água e espuma para o resfriamento das máquinas. As autoridades não souberam precisar qual a quantidade de óleo e metanol que vazou para o mar e a que queimou na explosão.

Na hora do acidente, já teriam sido descarregados nove milhões de litros de metanol, segundo o gerente-geral da Cattalini, Alcindo Cruz. Ele disse que a responsabilidade pelo navio é da agência contratadora. Os representantes do armador e da agenciadora da carga, a Wilson Sons, não deram entrevistas nem permitiram que o comandante do navio falasse com jornalistas.

A interdição da pesca na baía de Paranaguá vai mexer com a renda de cerca de 4 mil pescadores da região. Contando suas famílias, o reflexo da poluição se estende a 10 mil habitantes da regiãi. A conta é do presidente da Federação das Colônias de Pescadores do Paraná, Edimir Manoel Ferreira. Ele disse considerar ''precipitada'' a portaria conjunta do Ibama, proibindo qualquer extração do mar por tempo indeterminado.