Correio Braziliense, n. 22511, 04/11/2024. Política, p. 2
Lula evita falar em cortes
Camila Curado
Jaqueline Fonseca
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva silenciou, ontem, sobre o tema que mais preocupa os observadores da cena política e econômica do país. Na entrevista coletiva realizada antes do início das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Lula queria falar sobre educação (leia mais nas páginas 6, 13 e 17), mas os repórteres queriam saber quando sairia o pacote de cortes de gastos prometido pela equipe econômica há duas semanas.
Perguntado sobre a questão, o presidente se recusou a responder. “Eu não vou discutir nenhum assunto que não seja educação”, disse, na sede do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em Brasília, ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana.
Os jornalistas ainda insistiram: “Mas nem corte de gastos?”, e o presidente retrucou. “Nada. Nem Estados Unidos, nem Venezuela, nem a Nicarágua, nem a Rússia, nem a China. Hoje é Enem. Hoje o assunto é Enem. E o ministro já deu as informações para vocês, está bem?”.
Ao ser perguntado porque orientou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad a cancelar uma viagem à Europa, que faria hoje, o presidente deixou a coletiva sem responder.
A Junta de Execução Orçamentária (JEO), composta pelo ministro Haddad, pelas ministras do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, e da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, e pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, vem se reunindo com presidente para a elaboração de um conjunto de medidas para conter o excesso de gastos e garantir o cumprimento do arcabouço fiscal.
Em uma das reuniões da JEO na semana passada, Simone Tebet explicou aos jornalistas que o trabalha para construir “um pacote consistente, autorizado”, que “dê conforto” para os dois poderes, e que não tem pressa na aprovação do plano, mas na entrega dele. “Não adianta o presidente dar o Ok e ter alguma medida que o Congresso não aprove”, justificou sobre a demora em apresentar o projeto.
Revisão médica
Antes de se dirigir ao Inep, Lula esteve no Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, para repetir exames de imagem. Desde o acidente doméstico, sofrido no dia 19 de outubro, o presidente tem feito visitas frequentes ao hospital para realizar novos exames e verificar a situação de saúde. Todos os exames apontaram para um quadro satisfatório em relação ao estado de saúde. Desse modo, os médicos afirmam que Lula segue apto a exercer as atividades e o trabalho de modo geral.
A última visita do presidente Lula ao hospital foi há três dias. Naquela oportunidade, os exames demonstraram que “o presidente está apto a exercer sua rotina de trabalho em Brasília.” O boletim médico emitido ontem afirma que o presidente segue estável. “Permanece sem sintomas e o exame apresenta estabilidade em relação aos anteriores, devendo manter suas atividades habituais. Uma nova avaliação ocorrerá em uma semana, com a continuidade apenas do acompanhamento clínico”, diz o documento.
Umbuzada
Mais cedo, a primeira-dama Janja da Silva compartilhou um vídeo, em suas redes sociais, no qual o casal passeia pelo pomar do Palácio da Alvorada. No vídeo, sem demonstrar preocupação com o risco fiscal, Lula descreve as frutas que os dois encontram pelo bosque. Primeiro, um pé de buritis, cuja fruta ele não consegue consumir, mas deixa para as visitantes araras. “O buriti é uma fruta muito dura, mas para o bico das araras, não é”, disse Lula. Apontando um butiri para a câmera, ele prosseguiu: “Esse aqui é uma oferta do presidente para as araras que frequentam o Palácio da Alvorada”, brincou.
Depois, diante de um pé de umbu, Lula comentou, admirado, que não sabia da existência da espécie no Cerrado. “Achava que só existia no Nordeste”, disse ele. Olhando para a câmera, completou: “Janja, você nunca tomou uma umbuzada”, referindo-se à bebida que costuma ser oferecida, especialmente às crianças, na região onde ele nasceu. “Meu irmão, Vavá, batia o leite fervendo com umbu e fazia a umbuzada. Era muito bom!”.
Não foi a primeira vez que Lula cita a umbuzada da família. Em 2016, ele disse que foi “criado com umbuzada”, em referência à sua resistência física e política.