Título: Rice segue os passos de Kissinger
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2004, Internacional, p. A-7

Nomeada para a chefia do departamento de Estado, no lugar de Colin Powell, Condoleezza unifica a política externa Bush O presidente George Bush repetiu a história e nomeou a assessora de Segurança Nacional Condoleezza Rice para a direção do departamento de Estado, no lugar do general Colin Powell, que pediu demissão anteontem. A escolha segue os passos da nomeação de Henry Kissinger, em 1973, pelo ex-presidente Richard Nixon, republicano e conservador. Kissinger, principal formulador e conselheiro da política externa de Nixon, também foi lançado do Conselho de Segurança Nacional (CSN), que comandou de 1969 a 1975, para a chefia da diplomacia americana.

O anúncio da escolha de Rice foi feito ontem por Bush, que, com a nomeação, ainda a ser aprovada pelo Senado, coloca uma pessoa próxima e de confiança no comando da burocracia diplomática, unificando o tom da política externa levada à frente pela Casa Branca.

- Estou orgulhoso por anunciar a escolha de Condoleezza Rice como nova secretária de Estado. Condi é conhecida pelos americanos e pelo mundo inteiro - afirmou Bush em um discurso na Casa Branca, utilizando o apelido de Rice.

O presidente também anunciou a nomeação de Stephen Hadley como o novo assessor de Segurança Nacional. Hadley atuava como número dois no quadro de funcionários do CSN.

Ao divulgar o nome de Rice, Bush afirmou que tem se apoiado, nos últimos quatro anos, ''nos conselhos e na experiência'' da assessora.

- O departamento de Estado é a face dos Estados Unidos para o mundo. Em Rice, o mundo vai achar força, graça e a decência do nosso país - afirmou o presidente.

Na ocasião, Condi afirmou que estava ''honrada'' em suceder Colin Powell e ansiosa para trabalhar pela ''esperançosa e ambiciosa'' agenda do presidente.

- Sob a sua liderança, a América está lutando e vencendo a guerra contra o terrorismo - disse Rice a Bush.

A nova chefe da diplomacia americana tem 50 anos e nasceu no Alabama, onde viveu experiências de segregação racial. Com 19 anos, Condi se formou em Ciências Políticas pela Universidade de Denver. Com 26, já tinha mestrado e doutorado em Relações Internacionais, e foi trabalhar na Universidade Stanford, como especialista em assuntos relativos à União Soviética. Rice conheceu Bush quando era funcionária do Conselho de Segurança Nacional no governo do pai do atual presidente e se tornou amiga da família. Foi também assessora de Bush no governo do Texas.

- Nós temos boas relações com ela. O primeiro-ministro Tony Blair tem imensa admiração por Rice pelo modo como temos trabalhado juntos nos últimos quatro anos - afirmou o porta-voz do premier britânico.

Em Jerusalém, o ministro israelense das Relações Exteriores, Silvan Shalon, afirmou que Rice é uma ''verdadeira amiga de Israel''.

- A amizade dela conosco é profunda e está ligada a sentimentos religiosos e a uma fé comum - disse o chanceler.

No lado palestino, o negociador Saeb Erekat comentou que Condi é ''uma pessoa muito digna'', com uma mente ''muito analítica e sistemática''.

- Acredito que esteja comprometida com a solução de dois Estados independentes proposta pelo presidente Bush - afirmou Erekat, referindo-se a um objetivo colocado pelo atual governo americano para o segundo mandato, o de pacificar o conflito palestino-israelense com a coexistência pacífica de dois Estados na região.

Em Paris, o tom foi mais comedido. O ministro das Relações Exteriores francês, Michel Barnier, procurou elogiar o secretário de Estado demissionário Colin Powell, reconhecidamente mais moderado do que outros ocupantes do alto-escalão do governo Bush. Sobre Rice, Barnier disse que a nova chefe da diplomacia americana e ''uma mulher de caráter''.

- É o mínimo que posso dizer - afirmou Barnier, sobre a nova secretária de Estado.

A nomeação de Rice é vista como um movimento que consolida o controle da Casa Branca sobre os instrumentos de política externa, já que o departamento de Estado, sob o comando de Powell, ficou marcado como uma voz dissoante da linha levada à frente por Washington. Ela representa uma liderança em sintonia com o presidente.

Ao colocar uma pessoa próxima e de confiança na direção do departamento de Estado, Bush inicia o segundo mandato com uma equipe mais unificada na política externa do que teve nos primeiros quatro anos. No entanto, é também um grupo percebido como formulador de uma abordagem internacional agressiva e unilateral, o que dificulta o trabalho da diplomacia americana.