Correio Braziliense, n. 22514, 07/11/2024. Brasil, p. 6

Moraes relembra covid-19
Luana Patriolino



O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), comentou ontem sobre as consequências da pandemia da covid-19 no país. Sem citar nomes, o magistrado criticou o “negacionismo governamental” de 2020 e condenou falas sobre a doença ser apenas uma “gripezinha”.

“Nós não estamos falando de uma — como foi dito à época por alguns — ‘gripezinha’. Nós estamos falando de uma pandemia em que mais de 700 mil brasileiros morreram. O Brasil foi o segundo país do mundo em números absolutos com maior número de mortes”, afirmou Moraes.

A declaração foi dada durante o julgamento de uma ação contra a lei de Uberlândia (MG) que proibiu a vacinação compulsória contra o coronavírus e impediu a imposição de restrições a direitos de pessoas que não são vacinadas contra doenças.

Do início da crise sanitária até 26 de abril de 2023, o Brasil acumulou 701.494 óbitos por covid. Até o final do cenário pandêmico, foi o segundo país com mais mortes pelo vírus, em termos proporcionais.

Moraes disse que, por conta do negacionismo em relação às vacinas, o país sofreu uma queda geral na cobertura vacinal, “com alguns argumentos, como ‘quem toma vacina vira jacaré’ ou de que a pandemia era uma conspiração chinesa para instalar na vacina um chip e o Brasil virar comunista”. “Tudo isso, que hoje parece risível, à época foi trazido para que as pessoas não se vacinassem, e o Brasil foi demorando para importar vacina”, relembrou o ministro da Suprema Corte.

Crimes na pandemia

No mês passado, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS) ingressaram na Procuradoria-Geral da República (PGR) com uma representação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro para solicitar que o órgão tome as “devidas providências” e ofereça ao STF uma denúncia contra o ex-chefe do Planalto por seus crimes durante a pandemia.

Na mesma representação, as entidades pedem também a responsabilização dos ex-ministros Marcelo Queiroga e Eduardo Pazuello, da Saúde, e Walter Braga Netto, da Casa Civil.

As entidades citam que o Brasil era apontado por especialistas e organismos internacionais como um dos mais preparados do mundo para enfrentar a emergência, mas que teve seu sistema de saúde “sabotado” pelos agentes públicos. Elas apontam uma conduta negacionista do ex-presidente.

Em 2022, a Procuradoria pediu ao STF o arquivamento de sete das 10 apurações preliminares, sobre Jair Bolsonaro, ministros e ex-ministros, abertas a partir das conclusões da CPI da Covid realizada pela Câmara dos Deputados.