Título: Fuzilamento em mesquita choca os árabes
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2004, Internacional, p. A-9

O marine filmado quando executava um rebelde ferido e desarmado dentro de uma mesquita foi afastado enquanto o Exército investiga o incidente. A imagem foi capturada por um repórter da rede NBC que acompanhava os soldados. O pelotão havia voltado ao local no sábado, depois de receber informação de que havia insurgentes ali. Encontraram cinco homens, três estavam mortos e dois feridos.

A reportagem mostra que um marine, não identificado, grita com um dos feridos, deitado junto à parede.

- Esse f.d.p. está fingindo que está morto! - berrou, levando o fuzil ao rosto para fazer pontaria, enquanto o ferido tentava gesticular. A cena seguinte foi editada nas redes americanas, mas mantida nas européias. O soldado então dispara duas vezes. Um dos tiros acerta o peito do iraquiano e o outro a cabeça, deixando uma mancha de sangue na parede atrás dele. Outra voz se ouve:

- Agora ele está morto.

O vídeo gerou reações de repulsa entre os árabes. Sharif Hikmat Nashashibi, diretor da Arab Media Watch, afirma que a atitude do militar mostra que o bem-estar dos iraquianos não é a preocupação dos EUA.

- Não é diferente de Abu Ghraib. É mais uma confirmação de nossas suspeitas do que uma revelação.

Colegas e superiores do soldado se apressaram em defendê-lo. Enquanto o Pentágono atribuia a morte a um tiro de misericórdia para acabar com o sofrimento de um inimigo, os companheiros disseram que ele se encontrava sob intenso estresse de combate. O militar havia sido ferido de raspão no rosto e voltara naquele dia à sua unidade.

- Eu o entendo. Estava cansado de correr das balas em quatro dias de luta em Faluja. Deve haver uma investigação, mas precisa levar em conta as circunstâncias - pondera o cabo Christopher Hanson. - Eu faria a mesma coisa: dois tiros na cabeça - acrescenta o sargento Nicholas Graham. - Você não pode confiar nessa gente. Não devem investigar porque ele não fez nada errado.

A unidade havia perdido um homem na véspera, morto por uma bomba escondida sob um cadáver. Segundo a 1ª Divisão dos marines, a tese de ação ''em legítima defesa, em função disso, está sendo considerada, junto com a possibilidade de uma violação das regras de combate''.

Kevin States, o repórter da NBC que acompanhava o pelotão em Faluja, contou que a mesquita havia servido de ponto de ataque com foguetes e armas leves aos soldados americanos. Um dia antes, as tropas haviam tomado o local, matando 10 rebeldes e ferindo cinco. Quando o segundo pelotão de marines retornou, no sábado, os mesmos cinco feridos continuavam lá: dois haviam sangrado até a morte, um estava coberto com um cobertor, mas vivo, e um terceiro, o que foi executado, ainda respirava, embora estivesse seriamente atingido.

States disse, então, que escutou tiros em seu interior. Um marine, que saiu da mesquita, contou para um tenente que havia disparado em pessoas no interior do templo.

- O oficial perguntou se estavam armadas, mas o soldado se limitou a 'dar de ombros' - frisou. O repórter da NBC lembrou que viu os cinco iraquianos feridos que haviam sido deixados no local na véspera. Quatro tinham recebido novos disparos.

O Pentágono ordenou que a identidade do soldado não seja revelada até que o inquérito seja encerrado. O secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, evitou comentar o assunto:

Não vi o vídeo - alegou.