Título: O repugnante modelo cubano
Autor: Antonio Sepulveda
Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2004, Outras Opiniões, p. A-11

Embora a Unesco aponte o Brasil entre os países subdesenvolvidos que estão próximos de cumprirem pelo menos alguns dos objetivos do projeto Educação para Todos até 2015, temos razões consistentes para a incerteza e a inquietação. O sistema educacional brasileiro é comprovadamente ineficaz e burocratizado; prima pela ingente capacidade de dificultar o processo de aprendizagem e tornar a existência de educandos e educadores um martírio. Na esfera pública, principalmente, o padrão universitário, salvo os cada vez mais escassos núcleos de excelência, está decadente e, com a estupidez dos critérios raciais no processo de seleção, caminha celeremente para o caos; os ensinos fundamental e médio, faz tempo, assumiram proporções catastróficas. Menos de 30% dos jovens que deveriam estar cursando o nível médio encontram-se efetivamente matriculados; o restante, uma horda maltrapilha de analfabetos e semi-analfabetos, vive na informalidade do mercado de trabalho ou na delinqüência. Não nos espanta, portanto, que nosso pais ocupe o vergonhoso 72º lugar na classificação de Desenvolvimento da Educação, estabelecido pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.

Esta realidade torna-se ainda mais sombria, quando o ministro da Educação, o Sr. Tarso Genro, decide copiar a metodologia cubana para alfabetizar e educar os brasileiros. Ou seja, o modelo que agrada ao comissário Tarso Genro é o de um país miserável onde inexiste oposição política; prevalece rigorosa censura à mídia; vigora um regime de terror controlado por intensa patrulha ideológica; que mantém prisioneiros políticos incomunicáveis, anos a fio, sem o benefício de um julgamento justo; fuzila, sumariamente, cidadãos que ousam divergir da odiosa doutrina socialista; de um país onde o povo não tem liberdade para se expressar, de ir e vir, além de ser obrigado a venerar o facínora Che Guevara como herói nacional.

Seriam nossos pedagogos assim tão medíocres a ponto de termos de importar instrução da monstruosa estrutura cubana, pela qual teremos de pagar em dólares para ajudar a sustentar o regime de um ditador sanguinário? Por que não copiamos os métodos de uma nação livre? Por que temos de dar ao mundo tamanha demonstração de apreço pelo totalitarismo e desprezo pela democracia? Não há motivo para surpresa. Afinal de contas, o comissário Tarso Genro é biógrafo de Lenin e ideólogo extremista do Partido dos Trabalhadores; escreveu um opúsculo, intitulado Esquerda em processo, onde ataca a livre iniciativa, a concorrência entre agentes econômicos e o pluralismo político; e onde defende o centralismo absoluto, a planificação imposta, e o controle estatal de todos os meios de informação. É uma espécie de manifesto comunista tupiniquim, com a diferença de que, por mais cegos que fossem, Marx e Engels, pelo menos, tinham um argumento. Tarso Genro nada acrescenta de novo à lengalenga socialista, exceto as palavras de ordem costumeiras e os clichês desbotados de sempre. A verdade é que o nosso ministro da Educação escreve mal, e a leitura de seu livreto há de ser enfadonha e inverossímil até mesmo para um marxista mórbido e sectário.

Sentimo-nos ameaçados, quando um governo procura reduzir o processo educacional a qualquer ideário especifico; em especial ao de uma ideologia macabra. Preferimos o pluralismo acadêmico e a franca liberdade de expressão e opinião. A abrangência do conhecimento deve ser nosso propósito primordial. O sectarismo socialista escraviza e causa dependências humilhantes e inaceitáveis; a desinformação inferioriza, distorce a realidade e, ao generalizar-se, destrói o sonho da autodeterminação de um povo. A pobreza intelectual é a pior forma de indigência do homem; para um país, é o caminho mais seguro para a estagnação. Para um governo mal-intencionado, contudo, pode ser a solução mais aceitável.