Correio Braziliense, n. 22521, 14/11/2024. Política, p. 2

Explosões e morte no centro do poder



Depois de tentar entrar no STF, ex-candidato a vereador em Santa Catarina morreu com a detonação de uma bomba próximo à Corte. Momentos antes, o carro do suspeito explodiu em um estacionamento da Câmara. PF e Polícia Civil investigam o caso

Um ano e 10 meses após os ataques golpistas que impactaram Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, explosões na Praça dos Três Poderes, com uma morte, abalaram a capital federal ontem à noite. A Polícia Federal e a Polícia Civil abriram inquéritos para investigar o caso.

Após as detonações, o corpo de um homem — identificado como Francisco Wanderley Luiz, de Santa Catarina — foi encontrado próximo à escultura “A Justiça”, que fica em frente ao STF. A polícia isolou a área, e os ministros da Corte foram retirados rapidamente do prédio, assim como demais servidores.

Segundo a PM, Francisco Luiz estava com roupas semelhantes às do personagem Coringa, tinha artefatos presos ao corpo e um dispositivo detonador. “Durante a varredura, foram identificados outros explosivos e um timer”, informou o major Brooke, chefe da Comunicação da corporação. “Se for para detonar, provavelmente esse timer será para os explosivos que estão na região do corpo.” De acordo com a governadora em exercício do DF, Celina Leão, Francisco Luiz tinha tentado entrar no STF minutos antes da explosão.

Testemunhas dizem tê-lo visto se aproximar da escultura e foi impedido por seguranças da Corte. Nesse momento, o extremista teria arremessado uma bomba contra a estátua, que não detonou. Ao tentar lançar outra, o artefato explodiu próximo à cabeça dele.

Momentos antes, um carro, no nome de Francisco Luiz, havia explodido no estacionamento do Anexo IV da Câmara. Imagens de vídeo mostram que o veículo parcialmente destruído, com artefatos e tijolos em seu interior.

Candidato a vereador

Candidato a vereador pelo PL, em Rio do Sul (SC), em 2020, Francisco Luiz fez posts em redes sociais, cerca de três horas antes das explosões, atacando o STF, o Congresso e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (leia reportagem ao lado).

Funcionária do Tribunal de Conta da União, Layana Costa contou ter presenciado o episódio. Conforme relatou, o suspeito passou por ela e fez um ‘joinha’ com as mãos. Depois, ela assistiu à cena, relatando muita fumaça e estouros fortes.

Layana disse que o homem estava sozinho, não disse nada e não portava nenhum cartaz, apenas uma “coisa” na mão, provavelmente uma sacola. “Ele estava de verde, se não me engano”, relatou aos jornalistas. “Foi tudo muito rápido.” As polícias Federal, Civil e Militar fizeram varredura na região para averiguar se havia outros explosivos. Foram feitas inspeções, também, no STF, no Palácio do Planalto e no Congresso.

Presidente do STF, o ministro Luís Roberto Barroso, conversou com Lula, por telefone, para tratar do assunto. De acordo com informações da Corte, o magistrado também falou com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues; com o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e com a governadora em exercício, Celina Leão (PP).

O Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, também passou por varredura. A segurança foi intensificada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Enquanto agentes faziam a inspeção, Lula recebia, no local, os ministros Cristiano Zanin e Alexandre de Moraes, do STF, e Andrei Rodrigues.

Em nota, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que “as forças federais de segurança pública acompanham atentamente os acontecimentos ocorridos na capital do país e estão preparadas para assegurar o pleno funcionamento dos Poderes constituídos”.

“A Polícia Federal está trabalhando com rigor para elucidar, com celeridade, a motivação das explosões na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo Tribunal Federal, e nos arredores do Congresso Nacional.”

Congresso

Câmara e Senado, que estavam em sessão quando ocorreram as explosões, demoraram pouco mais de uma hora para paralisar as atividades.

Na saída do Senado, o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse lamentar que “tenha uma pessoa morta, e demonstramos solidariedade, mesmo sem conhecer as circunstâncias”. Ele explicou ter sido informado do episódio por Celina Leão.

Em nota, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), enfatizou que a explosão do carro no estacionamento da Casa “deve ser apurada com a urgência necessária”. “Por determinação do presidente em exercício da Mesa, deputado Sóstenes Cavalcante, os trabalhos do plenário foram suspensos temporariamente, por medida de segurança, para garantir a integridade dos parlamentares e dos servidores da Casa. Em seguida, a sessão foi encerrada”, ressaltou.