Título: Mensalão financiou troca-troca de partidos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 22/12/2005, País, p. A2

Relatório de prestação de contas da CPI dos Correios divulgado ontem mostra que, de janeiro de 1997 a agosto 2005, as contas bancárias de Marcos Valério e suas empresas movimentaram R$ 2,6 bilhões. Para se ter uma idéia da dimensão dos valores movimentados nas contas de Valério, o montante seria suficiente para bancar o programa Bolsa Família para 3,5 milhões de famílias de baixa renda durante um ano. Para atender todas as 11,2 milhões de famílias com renda per capita de até R$ 100, o governo prevê custo de R$ 8,3 bilhões no Orçamento.

Não se pode afirmar, entretanto, que todos os recursos foram obtidos de forma ilegal e que seu destino foi o caixa 2 do PT e partidos aliados ou o esquema do mensalão.

O relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou que parte dos recursos operados por Valério foram utilizados para promover o troca-troca partidário a fim de fortalecer a base de sustentação do governo. E também para influenciar votações de matérias de interesse do Executivo. O mensalão foi classificado por Serraglio de ''fundo de recursos utilizados para o atendimento a interesses político-partidários''.

O relator atesta que a maior parte do dinheiro que abasteceu o valerioduto veio do Banco do Brasil (R$ 388,03 milhões). Outras estatais e empresas privadas também o financiaram.

Outros dados apresentados por Serraglio demonstram que existiram pelo menos quatro padrões de repasses de recursos feitos a partidos da base aliada. Houve a liberação de recursos para o PL por meio de pagamentos semanais executados pela corretora Guaranhuns. Já as remunerações a parlamentares do PP ocorreram pela corretora Bônus-Banval.

Cruzamentos de dados realizados pela equipe técnica da CPI indicam que ocorreu uma concentração de repasses entre janeiro e fevereiro ao PP. E, em maio, ao PTB.

Além disso, foi apontada uma ''coincidência'' dos pagamentos feitos a parlamentares em datas próximas a votações de interesse do Planalto.

Com a comissão tendo em mãos alguns dados conclusivos, a oposição se arma para atacar o governo e o PT no ano que vem, ano eleitoral. Já os petistas afirmam que os dados precisam ser melhor analisados antes de serem apresentados à sociedade como resultados finais da CPI. Outra exigência governista é que a comissão aprofunde as investigações de suspeitas anteriores ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. No documento, Serraglio deixou de citar o principal beneficiário do esquema tucano, o senador Eduardo Azeredo (MG). Em 1998, o parlamentar disputava a reeleição ao governo do Estado de Minas Gerais.