Correio Braziliense, n. 22525, 18/11/2024. Política, p. 2
Divergências ameaçam mensagem final do G20
Mayara Souto
Rio de Janeiro — A Cúpula do G20 começa hoje na capital fluminense sob a tensão de que os países participantes falhem na tarefa de fechar um documento que represente a posição de todos. A preocupação ficou clara com a declaração do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, de que se não houver um texto de consenso, o grupo das 20 maiores economias do planeta perde relevância.
"Apelo a todos os países para que tenham um espírito de consenso, para que tenham bom-senso e encontrem as possibilidades de transformar esta reunião do G20 em êxito, com decisões que sejam relevantes para a ordem internacional. Se o G20 se dividir, ele perde a relevância em nível global", exortou.
As preocupações sobre a falta de consenso para o documento final da cúpula esbarram em dois temas: as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e as questões ambientais. Os ataques russo à Ucrânia, ontem, e de Israel a Damasco (no sábado) e a Beirute (também ontem) obrigaram a uma rediscussão do trecho da declaração que trata de questões geopolíticas.
Na parte relacionada aos assuntos climáticos, a barreira tem sido a posição de Argentina, que se contrapõe à brasileira. Desde que o presidente Javier Milei determinou o retorno da comitiva que tinha ido à COP29 — a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que ocorre em Baku, no Azerbaijão —, os representantes do país vizinho têm indicado que não pretendem facilitar as coisas para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Falhar não é opção
As negociações sobre o documento final do G20 têm sido intensas e a rodada que começou no sábado terminou às 5h de ontem. Guterres cobrou que os líderes mundiais se comprometessem com medidas ambiciosas e eficazes contra a crise climática global, além de ajudar os países emergentes nos esforços de mitigar e enfrentar seus efeitos.
"Um acordo é essencial. Se não houver acordo, se falharmos na COP29, isso deixará inevitavelmente consequências negativas na proteção das populações, e terá também um impacto muito negativo na COP30, no Brasil. O fracasso não é uma opção. O G20 deve liderar com planos nacionais alinhados ao objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C. Brasil e Reino Unido já mostraram o caminho, mas todos os países do G20 precisam fazer um esforço adicional", advertiu.
Segundo Guterres, os Estados Unidos têm papel importante na questão climática. "Todos os sinais do mercado atualmente mostram que a energia renovável não é apenas a mais verde, mas, também, a mais barata forma de produzir energia. Então, estamos confiantes de que o dinamismo da economia americana e da sociedade americana vai se mover em direção da ação climática. Reconheço que a influência do governo é muito mais limitada do que já foi no passado", frisou.
Indagado sobre como líderes mundiais podem impedir que o futuro governo do presidente eleito Donald Trump possa atrapalhar acordos de cooperação internacional, Guterres defendeu que o fortalecimento do multilateralismo é a melhor resposta a qualquer eventual recuo dos EUA. "O mais importante é reconhecer a importância do multilateralismo e sustentar instituições multilaterais. Se você faz isso no nível da Organização das Nações Unidas, se você faz isso no nível da arquitetura financeira internacional. Se você adota um diálogo significativo no nível da governança da inteligência artificial (IA), se você está apto a fazer uma aposta firme no multilateralismo, essa é a melhor resposta possível", observou.
Frase
“Apelo a todos os países para que tenham um espírito de consenso, para que consigam bom senso e encontrem as possibilidades de transformar esta reunião do G20 em êxito, com decisões que sejam relevantes para a ordem internacional. Se o G20 se dividir, ele perde a relevância em nível global”
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas