Correio Braziliense, n. 22527, 20/11/2024. Política, p. 4
Pacheco ataca a articulação do levante. Lira se cala.
As reações no Congresso ao plano golpista que previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, colocaram em campos opostos o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Enquanto o primeiro emitiu nota repudiando a aventura do grupo de militares bolsonaristas o segundo não se manifestou.
"Extremamente preocupantes as suspeitas que pesam sobre militares e um policial federal, alvos de operação da Polícia Federal. O grupo, segundo as investigações, tramava contra a democracia, em uma clara ação com viés ideológico. (...) Não há espaço no Brasil para ações que atentam contra o regime democrático, e menos ainda, para quem planeja tirar a vida de quem quer que seja", disse Pacheco, em nota.
Lira esquivou-se de falar sobre o assunto. Ao chegar à Câmara para presidir a sessão deliberativa na tarde de ontem, foi cercado por jornalistas, mas se recusou a responder a perguntas. A assessoria do deputado foi procurada para saber se ele se pronunciaria ou divulgaria nota sobre o complô do golpe. Não respondeu até o fechamento desta edição.
Já a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), classificou como "extremamente graves" os planos revelados pela PF. Ressaltou que os envolvidos são servidores públicos que teriam usado "conhecimento técnico-militar que aprenderam através do Estado" para atentar contra a democracia e a vida. Ela defendeu, ainda, o fim dos projetos que têm como objetivo conceder anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Gleisi ainda criticou o comentário do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de que "pensar em matar não é crime". "Repugnante e antidemocrático, ao contrário do que diz Flávio Bolsonaro, é planejar o assassinato do presidente eleito, do vice e do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), jamais a ação da polícia e do Judiciário para desarticular a quadrilha que fez isso. Mas está chegando a hora de pagarem pelos crimes que cometeram", advertiu.
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), observou que "o fascismo e a delinquência serão combatidos com a lei e a Constituição. O antídoto ao ódio é o Estado Democrático. Sem anistia!".
José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, disse que as informações reveladas pela PF "são provas cabais do atentado contra o Estado Democrático de Direito e de crime de terrorismo contra autoridades da República".
Em reação também à trama dos militares bolsonaristas para atentar contra a vida de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, deputados das bancadas do PSol e do PT protocolaram um pedido para que o projeto de lei que anistia os condenados pela tentativa de golpe em 8 de janeiro seja arquivado. Em entrevista à Globonews, o decano do STF, ministro Gilmar Mendes, afirmou que "é incogitável" defender a anistia.
"É incogitável se falar em anistia nesse quadro, acho que seria até irresponsável. Tenho vários interlocutores no meio político e não me parece que faça qualquer sentido, antes mesmo de termos uma denúncia, se falar em anistia", afirmou.