Título: Saída de Casseb movimenta o PT
Autor: Janaína Leite e Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2004, Economia, p. A-17

Palocci nega pressão política para saída do presidente do Banco do Brasil. Ex-assessor de ministro está cotado para o cargo Depois de um dia de intensa boataria no mercado financeiro, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, confirmou a saída do presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb. Em entrevista ontem à tarde, na sede do ministério, Palocci anunciou como substituto-interino de Casseb o atual vice-presidente da área de Assuntos Internacionais do BB, Rossano Maranhão Pinto. De acordo com o ministro da Fazenda, não há prazo para a nomeação do novo presidente do BB. Ele admitiu, inclusive, a possibilidade de Rossano Maranhão Pinto continuar no cargo. Isso, porém, é tido no mercado e nos bastidores da Esplanada dos Ministérios como pouco provável. O motivo é o perfil técnico do interino, funcionário de carreira da instituição desde 1976.

A saída de Casseb se dá num momento em que o PT vive intensa movimentação. O partido vem se preparando para negociar vários cargos da administração pública, com o objetivo de garantir maioria na base parlamentar governista. Assim, teria de manter para si postos considerados estratégicos - caso da presidência do BB.

Na bolsa de apostas, o nome mais cotado é o de Nelson Rocha, presidente da Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários do Banco do Brasil, a BB DTVM. Além de ser ligado a petistas, Rocha amealhou confiança e prestígio junto ao Palácio do Planalto pelos resultados obtidos na BB DTVM.

Rocha foi secretário do Planejamento e Gestão Ambiental de Ribeirão Preto na gestão do atual ministro da Fazenda. Ao assumir, Palocci trouxe o assessor para o governo. Rocha é formado pela Unicamp e tem pós-graduação em Macroeconomia na PUC de São Paulo. Trabalhou também na criação do Banco Votorantim.

Palocci negou influências político-partidárias na saída de Casseb. A decisão foi atribuída pelo ministro ao próprio ex-presidente do BB, que teria combinado um período de permanência máxima de dois anos à frente da instituição. Sobre a atuação de Casseb à frente da maior instituição financeira do Brasil, foi só elogios.

- Os dados de valorização do banco mostram que o trabalho de Cássio foi importante - afirmou Palocci.

No início de 2002, quando Casseb assumiu, o lote de ações do Banco do Brasil estava cotado a cerca de R$ 8. Hoje, oscila na faixa de R$ 32.

Casseb, tido como alinhado com os tucanos, saiu da presidência do BB como entrou: sem declarações bombásticas e aparentando bom humor.

- Se eu não falei durante dois anos, não é agora que eu vou falar. Mas sentirei saudades da lojinha - brincou, falando do BB.

Casseb, durante sua permanência no leme do BB, foi alvo de denúncias de favorecimento aos petistas e de evasão de divisas. Entre as polêmicas que colecionou, está a acusação de contratar, sem licitação, três consultores por salários de até R$ 800 mil por ano - dois desses profissionais trabalharam com Casseb na Credicard e o terceiro, no Citibank.

Desde sua chegada ao governo, em 29 de janeiro de 2003, Casseb era visto como um aliado de passagem. Primeiro porque a ligação com o PT era recente. Em muitos nichos do partido, era comum ouvir críticas da suposta ligação de Casseb com os tucanos paulistas, com quem teria estabelecido laços entre 1993 e 1997, quando trabalhou como vice-presidente financeiro do Citibank. O segundo motivo era a pouca afinidade com o corpo de funcionários do BB e seus representantes nos conselhos e fundos de pensão.

A saída de Casseb era dada como certa desde meados deste ano, quando pipocaram denúncias de que ele teria feito remessas ilegais de recursos ao exterior. As operações teriam sido flagradas na CPI do Banestado. À mesma época, Casseb sofreu com a notícia de que o BB desembolsou R$ 70 mil na compra de ingressos de um espetáculo dos cantores sertanejos Zezé Di Camargo & Luciano, em Brasília, para arrecadar dinheiro para o PT. O apoio financeiro à dupla teria sido arquitetado por assessores petistas da direção do BB, mas Casseb acabou sofrendo com o desgaste.

No mês passado, Casseb protagonizou outra confusão, mas no papel de vítima. O então presidente do BB teria sido espionado pela empresa de investigação Kroll, a mando do banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity. Isso porque Casseb manteria contatos com executivos da Telecom Itália, companhia com a qual Dantas trava duelo pelo controle da operadora de telefonia fixa Brasil Telecom.

Na vice-presidência ocupada por Maranhão Pinto, ficará Francisco Lima Neto, atual diretor da área comercial. O presidente interino do BB enfrentará seu primeiro desafio público no dia 25, quando será divulgado o balanço da instituição.

- Não tenho preocupação com o tempo que vou ficar no comando. Meu trabalho é dar continuidade ao que o banco vem realizando - afirmou Rossano Maranhão Pinto.