O Estado de S. Paulo, n. 47865, 04/11/2024. Metrópole, p. A22
A partir de hoje, a gotinha dá lugar de vez à vacina injetável no
País
Fernanda Ornellas
A
partir de hoje, o Brasil implementará uma mudança importante em sua estratégia
de combate à poliomielite, substituindo as doses de reforço com a vacina oral
poliomielite (VOP) – a famosa “gotinha” – pela vacina inativada poliomielite
(VIP), administrada por injeção. De acordo com o Ministério da Saúde, a
alteração está alinhada com uma tendência mundial de utilização da VIP,
composta por partículas do vírus, em detrimento da versão oral, produzida com o
vírus atenuado. Segundo o infectologista Fernando Chagas, um dos benefícios da
substituição é que mais pessoas podem receber a vacina injetável. Por ser um
imunizante que não utiliza o vírus vivo atenuado, mesmo indivíduos com
imunodeficiência podem ser vacinados.
VANTAGENS.
Outra questão importante para a troca do tipo de vacinação é a transmissão
ambiental, afirma Silvia Nunes Szente Fonseca, médica pediatra e
infectologista. Por se tratar de um produto oral, uma parcela do vírus atenuado
presente na VOP é eliminada nas fezes das crianças vacinadas, disseminando o
“vírus vacinal da poliomielite”.
No
passado, essa eliminação pelas fezes foi importante por colocar a população em
contato com o vírus enfraquecido em locais onde não havia saneamento básico,
incentivando a produção de anticorpos nesses indivíduos. O problema é que, em
casos raros, pode haver mutação do vírus no ambiente, desencadeando a doença.
“A vacina injetável, em que o vírus é inativado, elimina o risco de mutação do
vírus no ambiente”, diz Silvia.
Outro
aspecto positivo é a simplificação do esquema vacinal. Com a mudança, todas as
doses da vacina serão injetáveis. As três primeiras doses, que já eram da VIP,
continuam sendo dadas aos 2, 4 e 6 meses de idade e, aos 15 meses, as crianças
receberão uma dose de reforço, agora injetável, no lugar da gotinha.
A
segunda dose de reforço, que anteriormente era administrada de forma oral aos 4
anos, não será mais necessária. “A vacina foi potencializada, então a vacina
por injeção não necessita de segunda dose de reforço”, diz Chagas.
PAPEL
HISTÓRICO. De acordo com o ministério, entre 1968 e 1980, o Brasil registrou
25.183 casos confirmados de poliomielite, também chamada de paralisia infantil.
Em 1980, o País iniciou a vacinação em massa da população e, em 1989, foi
registrado o último caso da doença em território nacional. Em 1994, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o Brasil livre da pólio.
Grande
parte do sucesso das campanhas de vacinação ao longo das décadas pode ser
atribuída à presença carismática do Zé Gotinha. Criado em 1986 pelo artista
plástico Darlan Rosa, o personagem tem um papel importante no imaginário do
País. “Quando vemos a fantasia, já sabemos que ali tem vacina, ali as pessoas
estão consumindo saúde”, afirma Chagas. Mesmo com a mudança para a vacina
injetável, o ministério informa que a figura do Zé Gotinha continuará sendo
símbolo de campanhas de imunização. •
Mas
ele continua
Zé
Gotinha continuará sendo símbolo de campanhas de imunização no Brasil