Título: Congresso em dívida
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 21/12/2005, Opinião, p. A12

O ano está no fim, mas um sem que os deputados se dignassem a votar a reforma política. A absolvição de Romeu Queiroz (PTB-MG) pelo plenário, contra o relatório aprovado pelo Conselho de Ética, a temporada desinibida do ex-ministro José Dirceu pelo Rio, surfando a onda como artista de cinema, a entrevista de Roberto Jefferson ao Jornal do Brasil, com mais ''revelações'' sobre o governo, o presidente Lula e o mensalão, como se nada tivesse a ver com os desmandos, compadrios de ocasião, fisiologismo de momento ao longo de décadas, são sintomas do mal que afeta o exercício da política no país. Paralelamente, a Câmara sinaliza para a absolvição de todos os amigos da dupla Delúbio Soares e Marcos Valério, parlamentares abastecidos com dinheiro que não se sabe bem ainda de onde veio, quem financiou. Pelos sintomas, e a votação pró-Queiroz confirma, caminha-se pelo tapete verde em direção a uma imensa pizza, sinal de que os senhores parlamentares estão mais interessados em si do que no Brasil.

Sem uma legislação que restrinja a formação de legendas de aluguel e permita o fortalecimento dos partidos com programas definidos, sérios e transparentes, que estabeleça regras e limites para a indicação de candidatos a qualquer cargo, que puna a infidelidade com a perda do mandato, só para citar alguns itens, o Caixa 2 vai continuar a alimentar campanhas e candidatos, mesmo que de forma mais avarenta, como revelou reportagem de Juliana Rocha, na edição de domingo.

Ninguém mais se ilude. Mandatos continuam sendo comprados por candidatos com maior poder econômico e menor competência política. A adoção das listas com concorrentes avalizados pelos partidos, ao contrário do que muitos imaginam, não é uma ação entre amigos, como prova a experiência de vários países. Ao contrário, obriga as legendas a selecionar melhor, porque em jogo estará seu futuro nas urnas. O eleitor aprendeu, com a crise política deste ano, a ser mais crítico. E vai cobrar, no ano que vem, mais ética, menos retórica e, acima de tudo, seriedade.