Título: Eleição preocupa indústria
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 21/12/2005, Economia & Negócios, p. A19

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, demonstrou ontem preocupação com o reflexo que as eleições terão na economia brasileira em 2006. Na avaliação dele, que é deputado federal por Pernambuco pelo PTB, a disputa eleitoral pode atrapalhar a votação no Congresso de reformas necessárias - Tributária, da Previdência e Trabalhista.

O chefe do Departamento de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco, ressaltou que incertezas no cenário político-eleitoral podem gerar riscos de o governo deixar de lado os compromissos com a estabilidade fiscal e monetária, além de existir a possibilidade de se criar um clima de radicalismo político.

A projeção do departamento econômico da CNI é que a economia cresça 3,3% em 2006, após uma expansão de 2,5% neste ano. De acordo com Castelo Branco, a indústria continuará liderando o processo de crescimento econômico no Brasil com uma alta para o próximo ano de 4,2% do Produto Interno Bruto do setor. Já o consumo privado e o investimento terão alta de 3,2% e 6,5%, respectivamente.

Castelo Branco afirmou que, em 2005, o conservadorismo da política monetária fez com que a demanda caísse, prejudicando a indústria de transformação e construção. O presidente da CNI também criticou as taxas de juros. Disse que este ano foi marcado pela frustração:

- Os primeiros dois trimestres apresentaram magníficos desempenhos. Mas, em função de um erro na calibragem da política monetária, houve um tombo na atividade - complementou Monteiro Neto.

A respeito da inflação, a estimativa é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue ao final do ano que vem em 4,7%, acima do centro da meta de inflação (de 4,5%). A projeção é que a taxa chegue a esse patamar com a Selic declinando para 15% ao ano em dezembro. Os juros básicos, segundo a CNI, devem ficar em 16% ao ano em média em 2006. Atualmente, a taxa básica de juros é de 18% ao ano.

Para Neto, é preciso uma discussão mais aprofundada sobre a questão fiscal no longo prazo e, do ponto de vista mais imediatista, da política monetária do governo. Monteiro Neto reafirmou que há a necessidade do estado cortar gastos para viabilizar a redução da carga tributária.

O chefe do departamento de Política Econômica da CNI destacou ''o excepcional desempenho das exportações, o recuo das expectativas inflacionárias e o equilíbrio das contas públicas'' em 2005.

Na avaliação de Castelo Branco, o real deve desvalorizar-se gradualmente em 2006. Ele estima que a taxa de câmbio chegue a R$ 2,50 em dezembro do ano que vem. Em média, projeta a CNI, a cotação do dólar deve ficar em R$ 2,40 no decorrer de 2006.

O coordenador do Departamento de Política Econômica da CNI admite que essa taxa de câmbio não é a ideal. No entanto, afirma que o dólar cotado a R$ 2,50 ''dá mais conforto'' para o setor industrial.

Em relação ao comércio exterior, Branco estima que o superávit comercial brasileiro fique em US$ 43,5 bi em 2006 (US$ 130 bi de exportações e US$ 86,5 bi de importações).

- A economia mundial vai continuar a crescer com força - disse Neto.