Correio Braziliense, n. 22534, 27/11/2024. Economia, p. 7

Carrefour pede desculpas
Júlia Portela



O Carrefour França se desculpou, ontem, por meio de uma carta enviada ao governo brasileiro. A polêmica começou quando a matriz da rede de supermercados declarou que cortaria a compra de carnes do Mercosul para defender a sustentabilidade do mercado local, que enfrenta uma crise.

A declaração foi interpretada por alguns como uma crítica à qualidade da carne brasileira, que frequentemente enfrenta desafios de imagem no mercado europeu devido a questões ambientais e padrões de produção.

Como reação do setor privado brasileiro, frigoríficos, hotéis, bares e restaurantes anunciaram um boicote à rede de supermercados francesa.

Ontem, o Carrefour França se manifestou sobre a declaração. A nota, assinada pelo diretor presidente do grupo, Alexandre Bompard, foi enviada ao Ministério da Agricultura do Brasil. “Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão, e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpa”, diz o comunicado do Carrefour.

Em resposta, a pasta da Agricultura afirmou que o Brasil é “o principal exportador de carne de aves e bovina do mundo” e com “elevados padrões de qualidade, sanidade e sustentabilidade da produção agropecuária”.

O ministério ainda adicionou que trabalha “sempre no intuito de esclarecer os fatos para não permitir que declarações equivocadas coloquem em dúvida um trabalho de defesa agropecuária de alto nível e de uma produção de alta qualidade e comprometida com uma das legislações ambientais mais rigorosas do planeta”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), reagiu com indignação ao pedido de desculpas enviada ao Brasil pelo Carrefour. Segundo Lira, a carta é “muito fraca”. “A carta do Carrefour foi muito fraca dado o estrago de imagem que o CEO do Carrefour produziu”, disse Lira, após a reunião semanal da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). “A coisa mais correta, neste momento, é combater a desinformação, por parte desse protecionismo que é burro. Porque, no que diz respeito às nossas comodities principais, a França não é um parceiro atraente para o Brasil. Não vai modificar em nada a vida dos produtores e das expor tações brasileiras.

Lira informou que está acelerando a tramitação do Projeto de Lei 1406/2024, conhecido como PL da Reciprocidade Econômica, que permitiria ao governo aplicar as mesmas medidas protecionistas impostas aos produtos brasileiros. Mas a proposta pode retirar o Brasil de acordos internacionais. Lira afirmou que o PL vai ser votado com “muita responsabilidade”, e que essa votação deve se dar ainda nesta semana.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou que recebeu “positivamente” a retratação apresentada pelo CEO do Carrefour.

“Em contraposição ao equívoco de sua primeira manifestação, a nova carta de Bompard faz jus à maior organização varejista atuante no Brasil. Nela, fica claro o reconhecimento aos enormes esforços dos produtores brasileiros para a produção de proteínas com elevados padrões sanitários e de qualidade, e que são fundamentais para a segurança alimentar do Brasil e de mais de 150 países em todo o mundo”, diz a nota. “Por isto, a ABPA e seus associados consideram o tema encerrado.”

Mercosul vetado

Ontem, no entanto, a Assembleia Nacional da França rejeitou por 484 a 70 votos o acordo União Europeia-Mercosul. Nos discursos de parlamentares, a carne brasileira foi chamada de “lixo”, entre outros termos pejorativos e expressões clichês. “Aglutinada em fazendas de 10 mil cabeças, engordada, condenada aos ferros, comendo soja transgênica, em um hectare onde antes havia a Floresta Amazônica, abatida sem dó nem piedade e empacotada em um cargueiro refrigerado. Seu destino? Nossas mesas, nossas cantinas, vendida pela metade do preço, financiada ao custo da nossa saúde, alimentada com um pesticida proibido na Europa, que fragiliza a gravidez e ataca a saúde dos recém-nascidos”, disse Vermorel-Marques, um parlamentar francês de direita.

Frase

“Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, com respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão, e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpa”

Alexandre Bompard, diretor presidente do Carrefour