Correio Braziliense, n. 22529, 22/11/2024. Política, p. 5
Lula agradece por “estar vivo”
Victor Correia
Israel Medeiros
Julia Portela
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se manifestou sobre o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de 36 dos seus aliados, ontem, pela Polícia Federal. Porém, comentou, pela primeira vez, o plano para matá-lo, revelado pela corporação nesta semana. Ele discursou em evento sobre concessão de rodovias no Palácio do Planalto.
“Eu quero agradecer, agora muito mais, porque estou vivo. A tentativa de me envenenar, eu e o Alckmin, não deu certo. Nós estamos aqui”, disse o presidente. O plano também incluía os assassinatos do vice -presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e seria executado por militares das Forças Especiais do Exército, os “kids pretos”, no fim de 2022.
Sem citar envolvidos, Lula repetiu que, na campanha eleitoral, um dos seus desejos era trazer o país à “normalidade”, sem confrontos violentos na política. “Eu não quero envenenar ninguém, nem perseguir ninguém. A única coisa que eu quero é que, quando terminar o meu mandato, a gente desmoralize com números aqueles que governaram antes de nós”, declarou o presidente.
No Palácio do Planalto, ministros mais próximos receberam as revelações da PF com perplexidade, mas celebraram o indiciamento dos envolvidos e pediram agilidade à Justiça. “A gente vê com absoluta perplexidade e indignação as informações que foram reveladas pelo inquérito”, disse o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, em vídeo publicado em suas redes sociais. “Com certeza, ainda no ano de 2025, eles serão julgados”, vaticinou.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, avaliou que “a Justiça tem que ser rigorosa na apuração e no julgamento dessas pessoas para desestimular completamente qualquer tentativa futura de repetir esse tipo de crime”.
O ministro da Secretária-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, seguiu a mesma linha: “É necessária a agilidade devida da Procuradoria-Geral da República e do STF na punição desses criminosos, para que nunca mais isso volte a acontecer no Brasil”, enfatizou.
Relatório “porcaria”
A notícia do indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) e de mais 36 pessoas ligadas ao seu governo na tentativa de golpe de Estado desceu quadrado para aliados do ex-presidente no Congresso Nacional. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), filho 03 do ex-presidente, criticou a PF e disse que a corporação foi “criativa” no relatório “porcaria” que indiciou o pai dele. Em um vídeo com legendas em inglês, o deputado relembrou que o presidente Donald Trump foi eleito apesar de ter sido indiciado por atacar o sistema eleitoral, em 2020. “Acontece nos Estados Unidos, acontece no Brasil”, escreveu.
Apesar da robustez das acusações, aliados do antigo governo duvidam, no entanto, de que Jair Bolsonaro possa ser preso. “Sabem que, se ele for preso, vai eleger até poste”, disse um deputado à reportagem, que não quis se identificar.
Frase
“Eu não quero envenenar ninguém, nem perseguir ninguém. A única coisa que eu quero é que, quando terminar o meu mandato, a gente desmoralize com números aqueles que governaram antes de nós”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República