Título: Prever tsunami é o maior desafio
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/12/2005, Internacional, p. A9

Há exatamente um ano o tsunami, terremoto de magnitude 9,3 pontos na escala Richter que provocou ondas gigantes de até 15 metros, arrasou o Sudeste Asiático. Um total de 218 mil morreram e 1,8 milhão de pessoas ficaram desabrigadas. Hoje, um dos maiores desafios das regiões afetadas, como Indonésia, Sri Lanka e Índia, além do processo de reconstrução e da ajuda aos desabrigados, é a possibilidade de um novo tsunami a qualquer momento nas próximas décadas. O estrago, numa região que ainda está se reerguendo, poderia ter efeito muito mais devastador. ¿ A questão não é se vai acontecer, mas quando ¿ alertou Barry Hirschorn, do Centro de Alerta de Tsunami do Pacífico.

¿ A região vive uma seqüência sísmica que ocorre a cada 800 ou mil anos. E esta seqüência ainda não terminou ¿ explica Paul Tapponnier, pesquisador do Instituto de Física do Globo de Paris.

Para isso, os sistemas de alerta estão sendo aprimorados para que seja possível prever o fenômeno. Um esquema de vigilância constante no Oceano Índicoteria permitido salvar milhares de vidas. Um aparato em parceria com a Comissão Oceanográfica Intergovernamental e a ONU, por exemplo, está quase pronto. Os centros de alerta estão programados para atender 27 países banhados pelo Oceano Índico. Tailândia e Indonésia já instalaram torres de alerta em praias.

Existem dois tipos de sistemas: o registro da pressão no fundo do oceano e o monitoramento do nível do mar na costa. No primeiro, um aparelho grava a pressão no fundo do mar ¿ os sinais são enviados para uma bóia na superfície. As informações são mandadas para o satélite e transmitidas à estação.

A Alemanha está trabalhando em um projeto conjunto com a Indonésia para colocar dez bóias, as duas primeiras foram instaladas em novembro.

A vantagem desse sistema é que pode detectar um tsunami de longe do mar, o que dá tempo suficiente para avisar aos países da região. No entanto, a manutenção das bóias é muito cara.

O tsunami de 2004 levou duas horas para atingir a costa do Sri Lanka. A Indonésia, onde morreram a maior parte das vítimas, foi atingida em 15 minutos. O principal problema é justamente nessas regiões, como Sumatra, porque quando um alerta soar o terremoto já estará acontecendo. Os habitantes terão apenas 20 minutos para se proteger.

O fato de a tragédia ter pego os milhares de habitantes e turistas do Sudeste Asiático de surpresa agravou seus efeitos. Na Indonésia foram 168 mil mortos, 500 mil pessoas ficaram desabrigadas e 400 mil perderam o emprego. Na Índia, foram 16.389 mortos, 70 mil desabrigados. Na Tailândia, 5.395 mortos (incluindo 2.400 estrangeiros).

Mas o impacto social não foi a única conseqüência da tragédia. Cientistas que participaram do Censo da Vida Marinha, observaram uma denominada ¿zona morta¿ na região do epicentro do tsunami, no fundo do Oceano Índico. Paul Tyler, coordenador da expedição, em 25 anos de pesquisa nessa área, nunca tinha visto nada parecido. Foram 8 mergulhos que variavam entre uma profundidade de 500 m e 4.500m, cinco meses após o desastre.

¿ O terremoto provocou a suspensão de sedimentos, que formaram uma espécie de sopa espessa, e interferem na alimentação e respiração dos peixes e outros animais marítimos ¿ explica ao JB professor Fred Grassle da Universidade Rutgers, em Nova Jersey.

Por isso, mesmo espécies que vivem próximas a esta área não se aproximam. O meio não é propício à sobrevivência.

O grupo esperava encontrar dezenas de peixes, corais, esponjas, pepinos-do-mar, crustáceos entre outras. Grassle afirma que o normal seria haver 200 espécies numa região como a estudada. Segundo o especialista, a previsão para que a área volte ao normal é de aproximadamente dez anos.