Correio Braziliense, n. 22537, 30/11/2024. Política, p. 2

Haddad: pacote “não é uma bala de prata”
Vanilson Oliveira



O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou, ontem, que o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo, com previsão de economia de R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026, “não é uma bala de prata” e que ajustes adicionais podem ser necessários. A afirmação foi feita em evento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em São Paulo.

Haddad reconheceu que as medidas dependem do alinhamento com o Congresso e de cálculos precisos para gerar os resultados esperados. “Se tiver algum problema de cálculo, nós vamos voltar para a planilha, vamos voltar para o Congresso, vamos voltar para o presidente da República, com a demanda que nós achamos que é a correta”, afirmou o ministro.

O conjunto de medidas anunciadas pelo governo afeta salário mínimo, programas sociais,  aposentadorias dos militares e emendas parlamentares, entre outros.

No entanto, as reações do mercado e do Congresso sinalizam que o caminho para a aprovação e a implementação do pacote não será simples. O dólar, pela primeira vez na história, ultrapassou os R$ 6 (leia reportagem na página 7).

Também no almoço da Febraban, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, destacou as declarações de Lira e Pacheco, que ajudaram a acalmar um pouco o mercado financeiro.

Conforme Galípolo, enquanto o pacote de contenção de gastos está sendo digerido, as falas dos presidentes da Câmara e do Senado contribuíram para uma interpretação de que existe um consenso em torno da grande disposição em aprovar o ajuste com urgência e de que a reforma do Imposto de Renda, visando ampliar a faixa de isenção para R$ 5 mil, envolve uma discussão mais ampla, a ser feita apenas a partir do ano que vem.

O futuro presidente do BC também ressaltou as declarações de Haddad no almoço. Segundo Galípolo, o discurso do ministro mostrou convicção na direção do ajuste das contas públicas.

Galípolo avaliou que, entre esta sexta ou no sábado, com o envio do pacote ao Congresso, os agentes do mercado poderão se debruçar sobre o ajuste para entender, com mais detalhes, seu impacto efetivo.

Juros

Galípolo também comentou sobre juros. Disse que, diante de uma economia aquecida, a instituição “eventualmente” terá que pisar um pouco mais pesado no freio, indicando assim uma Taxa Selic mais alta.

“Eventualmente terá que ter o pé um pouco mais pesado no freio para não permitir um aquecimento da economia a ponto de pressionar a inflação”, frisou.

Na sequência, após citar o mercado de trabalho apertado no Brasil, além da tendência de menos cortes de juros nos Estados Unidos, favorecendo alta do dólar, Galípolo afirmou parecer lógico imaginar que serão necessários juros mais contracionistas por mais tempo.

O diretor reiterou que terá liberdade de ação quando assumir, em janeiro, a presidência do BC e que não se preocupa se receber críticas do governo que o indicou ao cargo.

“Não é tema que me preocupa receber criticas porque o arcabouço legal da política monetária está muito claro. O Banco Central não recebe comando por entrevistas e posts em rede social”, argumentou. Ele reforçou que a função do BC é perseguir a meta de inflação, fixando para isso uma taxa restritiva pelo tempo que for suficiente.