O Globo, n. 32289, 01/01/2022. Brasil, p. 7
Sob panelaço, Bolsonaro critica passaporte sanitário
Patrick Camporez e Daniel Gullino
Na noite de ontem, em rádio e televisão nacional, o presidente Jair Bolsonaro fez críticas ao passaporte vacinal e tentou defender a atuação do governo na pandemia, que durante este ano foi alvo de duras críticas e acusações ao longo da CPI da Covid.
Durante o discurso do presidente, houve panelaços em vários estados e capitais do país. No Rio, as manifestações ocorreram em bairros da Zona Sul, Zona Norte, Região Central e Zona Oeste aos gritos de "fora, Bolsonaro!". Protestos também ocorreram em cidades da Região Metropolitana do Rio, como Niterói. Houve manifestações em várias regiões de São Paulo, em Recife, Salvador, Brasília, Fortaleza, Belém, Belo Horizonte, Vitória e Campo Grande e Florianópolis.
Em muitas capitais, os protestos com panelas vieram acompanhados de palavras contra Bolsonaro. Em São Paulo, assim como no Rio, alguns prédios ganharam projeções contra o presidente e o governo.
O discurso de seis minutos em rede nacional foi usado pelo presidente para se defender das críticas à lentidão na aquisição de vacinas. Ao longo deste ano, a CPI da Covid mostrou que o governo federal recusou ofertas de venda das vacinas da Pfizer e do Instituto Butantan, o que levou a um atraso na compra dos imunizantes. Bolsonaro foi alvo, no relatório final da comissão, de pedido de indiciamentos por crimes cometidos na pandemia de coronavírus.
— Lembro que em 2020 não havia vacinas disponíveis no mercado, e a primeira pessoa vacinada foi no Reino Unido em dezembro. Todos os adultos que assim desejaram foram vacinados no Brasil.
Citando o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o presidente voltou a dizer que o governo defende a vacinação das crianças apenas com receita médica e criticou ainda a exigência do passaporte vacinal.
— Não apoiamos o passaporte de vacina. Nem qualquer restrição para quem não quer se vacinar. Também, conforme anunciado pelo ministro da Saúde, defendemos que as vacinas para crianças entre 5 e 11 anos sejam aplicadas apenas com consentimento dos pais e prescrição médica. A liberdade deve ser respeitada - afirmou.
Bolsonaro voltou a criticar os governadores por terem determinado o fechamento do comércio para conter a propagação da Covid-19 e disse que as ações do governo federal permitiram que a economia se mantivesse ativa. Sobre as críticas à falta de ação do governo federal para ajudar as vítimas das enchentes na Bahia, o presidente disse que orientou os ministros da Cidadania, João Roma, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, a prestar toda a assistência necessária aos estados de Minas Gerais e Bahia.