O Estado de S. Paulo, n. 47875, 14/11/2024. Política, p. A10
Estatais deram R$ 33,5 milhões para o G-20 e o ‘Janjapalooza’
André Shalders
Festival Aliança Global Contra a Fome a Pobreza vai de hoje até sábado na Praça Mauá, no Rio
A Itaipu Binacional e a Petrobras deram R$ 33,5 milhões para o encontro do G-20 e para o festival Aliança Global Contra a Fome a Pobreza, evento que ocorre de hoje até sábado, no Rio. No caso de Itaipu, houve patrocínio de R$ 15 milhões para o festival, para a reunião do G-20 Social e para eventos paralelos. Já a Petrobras deu R$ 18,5 milhões para a reunião do G-20 como um todo, por meio de parceria.
Procuradas, a Itaipu disse que o evento tem “importância estratégica” e a Petrobras afirmou que não houve patrocínio e, sim, apoio via acordo de cooperação.
Por causa do envolvimento da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, na organização, o festival passou a ser chamada de “Janjapalooza” nas redes sociais. Janja trabalhou na Itaipu entre 2005 e 2020 – na estatal, ela foi assistente do então diretor-geral, Jorge Samek.
O evento será realizado na Praça Mauá, e terá atrações como Alceu Valença, Zeca Pagodinho e Ney Matogrosso, com entrada gratuita. O festival foi planejado para ser realizado nos mesmos dias do G-20 Social, um encontro de representantes da sociedade civil, e antecede a Cúpula de Líderes do G-20, que também será no Rio, na semana que vem.
O Estadão perguntou ao Banco do Brasil e à Caixa quanto eles aportaram no evento, mas não houve resposta. O BNDES respondeu, mas se recusou a informar valores. Disse apenas que demandas deveriam ser encaminhadas ao Ministério da Cultura. A pasta, por sua vez, declarou, em nota, que “o valor investido no festival será divulgado posteriormente”.
Ao omitir os dados, o BNDES contraria prática do próprio banco: a instituição divulga valores em seu site. O uso de estatais para financiar eventos tem sido prática comum no terceiro “A Petrobras entende que essa iniciativa se alinha ao posicionamento de uma empresa líder na transição energética justa” Petrobras
Em nota mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
‘CONSULTIVO’. Outra estatal envolvida com o “Janjapalooza”, o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) disse não ter patrocinado o festival com dinheiro. “O Serpro é parceiro do Itamaraty e do governo federal para a realização do G-20 no Brasil. Para essa iniciativa específica, o Serpro participou com um papel consultivo em relação à infraestrutura de conectividade para o Aliança Global. Não houve investimento de patrocínio no evento”, afirmou, em nota.
De acordo com o Ministério da Cultura, o evento foi organizado em parceria com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEIA), um organismo multilateral. Além das estatais, são “parceiros” do “Janjapalooza” a prefeitura do Rio, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A Petrobras disse que apoiou o evento por meio de um acordo de cooperação internacional com a OEIA. “As ações envolvem a Cúpula de Líderes, a Cúpula Social, o festival e encontros e eventos paralelos que promovam a inclusão social, a sustentabilidade e o desenvolvimento econômico.
Não se trata, portanto, de patrocínio”, disse a estatal. “A Petrobras entende que essa iniciativa se alinha ao posicionamento de uma empresa líder na transição energética justa. O valor do acordo é de R$ 18,5 milhões em 2024”, afirmou.
Os artistas que se apresentarão vão receber cachê simbólico de R$ 30 mil. São 29 atrações confirmadas. Além do Ministério da Cultura, a Secretaria-Geral da Presidência também está envolvida na organização, segundo apurou o Estadão.
Em nota, a Itaipu disse que o evento tem “importância estratégica”. “A Itaipu Binacional patrocinou a Cúpula Social, o festival e outros eventos de encerramento do G-20, considerando a importância estratégica de participar de ação que aborda pontos de grande relevância na agenda internacional do Brasil.”