O Globo, n. 32290, 02/01/2022. Brasil, p. 5

Lula aguarda aliados para anunciar chapa até março
Sérgio Roxo


Embora nenhum membro do comando do PT considere a possibilidade de Lula não concorrer ao Palácio do Planalto em 2022, o ex-presidente ainda evita se colocar abertamente como candidato à sucessão de Jair Bolsonaro. A ideia é que a chave para a condição de postulante voltar ao comando do país seja virada no primeiro trimestre do ano.

O líder petista pretende anunciar a pré-candidatura em fevereiro ou março. Pelo roteiro traçado, Lula receberia o aval, não só do PT, mas também de outros partidos, como PSB e PCdoB, para disputar a Presidência. 

— Seria importante anunciar a candidatura já com apoio — diz a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

O anúncio antecipado de uma aliança para as eleições de novembro ainda depende, no entanto, de negociações. Há uma hipótese de formação de uma federação partidária entre as três siglas e o PV. Mecanismo que entrará em vigor pela primeira vez na disputa deste ano, a federação exige que as partes atuem em conjunto por um período de quatro anos nas esferas federal, estadual e municipal. O prazo legal para formalizar a federação é o início de abril.

Se a união for aprovada, os palanques de Lula nos estados seriam definidos a partir das escolhas da federação. Os partidos federados só podem ter um candidato em cada concurso. O PSB exigiu contrapartes do PT com o apoio de candidatos a governadores em seis estados. Um dos principais entraves está em São Paulo, onde o ex-governador Márcio França (PSB) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) se colocaram como pré-candidatos.

Anúncio do vice

O anúncio do vice da chapa chefiada por Lula também pode ocorrer no lançamento da pré-candidatura. O ex-governador Geraldo Alckmin, que deixou o PSDB, é o mais citado. 

Em um segundo momento, mais próximo dos prazos das convenções partidárias (entre 20 de julho e 5 de agosto), há a expectativa dos petistas de atrair pequenos partidos de centro como Solidariedade e Avante. Diálogos também devem ser mantidos com PSD e MDB, legendas que hoje têm pré-candidatos à presidência (os senadores Rodrigo Pacheco e Simone Tebet respectivamente). Esses outros partidos apiariam Lula no modelo tradicional de coligação e não integrando a federação.

Antes de colocar o bloco oficialmente na rua, Lula deve, ainda em janeiro, fazer um check-up, como costuma fazer todos os anos desde que teve um câncer na laringe em 2012. Após os resultados dos exames, o ex-presidente pretende retomar as viagens pelo país.

Os destinos não estão definidos, mas é possível que o líder da festa visite Minas Gerais e as regiões Norte e Sul, além do interior de São Paulo.

Lula deve bater o martelo no início do ano na equipe de campanha. Não há definição, por enquanto, por exemplo, sobre quem será o marqueteiro, embora o jornalista e ex-ministro Franklin Martins já tenha assumido o comando geral da comunicação do líder petista. 

Também deve ser montada uma equipe para formular as propostas econômicas que serão apresentadas ao país. Lula determinou que, em um primeiro momento, ninguém deveria falar de economia em seu nome ou apresentar medidas que seriam implementadas em um possível governo. 

O programa do governo começará a ser elaborado após o anúncio da pré-candidatura. O PT quer usar como referência o Plano de Reconstrução do Brasil lançado pelo partido em setembro do ano passado com alternativas para o país sair da crise econômica que foi agravada pela pandemia de Covid-19. Gleisi Hoffmann garante, no entanto, que haverá conversas com os aliados para definir exatamente que conjunto de propostas será apresentado na campanha eleitoral.