Título: Aldo desmente CPI e nega mensalão
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 23/12/2005, País, p. A3

Responsável por presidir o julgamento dos deputados ameaçados de cassação, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), desmentiu ontem a tese da CPI dos Correios, divulgada na véspera, e afirmou não acreditar na de existência do mensalão. Em relatório parcial da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-SC) havia constatado exatamente o inverso, identificando prováveis abastecedores do ¿valerioduto¿ e estabelecendo relação direta entre os repasses de dinheiro e votações importantes no Congresso. Na entrevista, Aldo atuou na defesa do governo e do PT. O deputado, que já foi líder do governo e ministro da Articulação Política até o início deste ano, diz não acreditar que houve repasse de recursos para partidos da base aliada do governo às vésperas de votações importantes.

¿ Houve transferência de recursos para partidos, para despesas de campanha e isso a CPI está esclarecendo. O que sustentou a tese do ex-deputado Roberto Jefferson de que deputados receberam para votar matéria do governo não se sustenta ¿ disse

¿ O pagamento para votar acredito que não tenha ocorrido. Acredito na versão de dirigentes partidários que foi para saldar dívidas eleitorais ¿ acrescentou.

Já no contra-ataque, Rebelo não perdeu a oportunidade, durante as duas horas de entrevista, de alfinetar a oposição, em especial os tucanos. Chamou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para a briga em 2006 e confessou que gostaria de assistir ao que chamou de ¿disputa do século¿: Lula e FHC em um novo confronto nas urnas. ¿ Não quero me meter na escolha dos presidentes alheios, mas não acho o José Serra o candidato mais representativo para essa disputa. Quem se dedica ao ofício permanente de liderar a oposição é FHC ¿ explicou Rebelo, ponderando que o tucano que governou o País durante oito anos seguidos seria o candidato mais forte contra o petismo. Apesar da opção pessoal, Aldo elogia o prefeito de São Paulo e pré-candidato à presidência, José Serra, com quem afirma ter ¿identidade¿ sobre questões políticas e econômicas, além de ¿laços profundos e duradouros¿ de paixão pelo Palmeiras.

Para o deputado alagoano, um possível pleito com os dois históricos adversários políticos serviria para a população avaliar os dois governos e optar pelo que achou mais positivo. Na segunda-feira, durante reunião do presidente Lula com seus ministros, a palavra de ordem foi defender o governo e compará-lo em público, diante de uma lista de resultados positivos, à gestão anterior.

Rebelo tampouco poupou a oposição ao comentar os debates promovidos pelo PSDB na defesa pelo fim da reeleição para cargos eletivos.

¿ Considero quase uma desfaçatez pessoas que fizeram o que fizeram para aprovar a reeleição dizerem agora, às vésperas da eleição, que querem discutir isso. Aos interessados, que esperem 2007. Esse debate não será feito agora na Câmara ¿ afirmou.

Descontraído, o presidente disse que tinha consciência do desgaste com a população ao convocar extraordinariamente os 513 deputados ¿ que receberão, cada um, R$ 25,6 mil pelo ¿esforço extra¿. Mas, além de atender a um pedido do Conselho de Ética, garante que o funcionamento do plenário durante o recesso servirá para aprovar uma proposta de emenda constitucional que acaba com os jetons e um projeto de resolução para diminuir o recesso anual de três meses para 45 dias.

Também serão prioridades na pauta, segundo o presidente, o Fundo de Desenvolvimento e Manutenção da Educação Básica (Fundeb), a Lei das Micro e Pequenas Empresas e parte da reforma política que trata da redução dos custos de campanha. Aldo afirmou ainda que optou pela convocação parcial ¿ ou seja, com o plenário funcionando apenas a partir de 15 de janeiro ¿ para não passar pelo constrangimento de não ter quorum em períodos críticos como Natal e Ano Novo.

Pretexto para a convocação ainda em dezembro, o Conselho de Ética, no entanto, suspendeu os trabalhos até o dia 9 de janeiro alegando dificuldades de tomar depoimentos neste período das festas natalinas. O presidente da Câmara disse não concordar com o recesso, mas ressaltou que o conselho é autônomo para tomar decisões internas e que não poderia interferir.