Correio Braziliense, n. 22540, 03/12/2024. Política, p. 4
Força-tarefa da PGR analisará inquérito
A Procuradoria-Geral da República (PGR) iniciou, ontem, a análise das 884 páginas do relatório final da Polícia Federal sobre a investigação que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas por envolvimento em um plano de golpe de Estado. Foi criada uma força-tarefa com nove procuradores do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos para analisar o documento elaborado pela PF.
O relatório foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada. O procurador-geral das República, Paulo Gonet, sinalizou que não há pressa para a conclusão da eventual denúncia, citando a “enorme complexidade” do caso. Daí porque a conclusão ficará para 2025.
Nos próximos dias, a PGR também pode se debruçar sobre a investigação da chamada Abin Paralela, um esquema de espionagem ilegal montado na Agência Brasileira de Inteligência e que teria o então diretor da instituição, o hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), como cabeça do esquema. As investigações da PF mostram que políticos e agentes públicos considerados adversários de Bolsonaro foram bisbilhotados. A PGR enxerga conexões com o inquérito do golpe.
A PGR pode apresentar, ainda, uma denúncia conjunta contra Bolsonaro. Incluiria a investigação de fraude nos cartões de vacina do ex-presidente e de parentes e a da vendas de joias e presentes de outros governos à Presidência da República — desviados para serem comercializados no mercado secundário de artigos de luxo.
A investigação da PF trouxe à tona a elaboração de um plano com o objetivo de abolir o Estado Democrático de Direito. Segundo o relatório entregue ao STF e repassado à PGR, Bolsonaro “tinha plena consciência e participação ativa” nas ações criminosas.
De acordo com a PF, Bolsonaro realizou lives e reuniões para sustentar a narrativa de fraude nas eleições e descredibilizar as urnas eletrônicas. Os desdobramentos do inquérito também colocam o ex-presidente como figura central no esquema, cuja concretização estava na “minuta golpista” que previa a detenção dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do STF, além do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
As “minutas” foram encontradas na casa do ex-ministro Anderson Torres, no celular do tenente-coronel Mauro Cid — ex-ajudante de ordens de Bolsonaro —, e na sede do PL, em Brasília.