Título: Aposentado pede impeachment
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 23/12/2005, País, p. A4

As ''bengaladas morais'' que o paranaense Yves Hublet deu no petista José Dirceu, na véspera da cassação de seu mandato, agora miram no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desta vez, o cajado do aposentado foi substituído pela máquina de escrever, onde elaborou pedido de impeachment, que foi protocolado ontem na Secretaria-Geral da Mesa da Câmara. No documento, Yves citou as provas encontradas nas CPIs dos Correios, Mensalão e dos Bingos, que, segundo ele, mostravam ''conivência'' de Lula com um esquema de corrupção de integrantes do Legislativo. Mas o destino do pedido do paranaense deve ser o mesmo de outros 13 que foram arquivados por insuficiência de provas. Antes mesmo de receber o relatório de Yves, o presidente da Casa Baixa, e aliado de Lula, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), já demonstrava desinteresse no pedido.

- A Constituição faculta esta iniciativa à sociedade. E o presidente da Câmara observa às razões e decide - afirmou e continuou: - Busquei na Procuradoria processos contra ele (Yves), sei bem de seu passado. É indigno de viver na democracia. Resolver indignações por violência é lamentável.

Quanto ao número de pedidos de impeachment do presidente Lula protocolados nos últimos meses, em função dos escândalos de corrupção que tomaram conta do Parlamento, Aldo avaliou como algo comum. Uma vez que Fernando Henrique, em oito anos de governo sofreu 24 processos. Numa média aproximada, Lula estaria dentro dos limites de tolerância.

Depois das denúncias da existência do mensalão pelo ex-deputado Roberto Jefferson, a secretaria-geral registrou oito pedidos de impeachment. Todos de cidadãos comuns. Deputados da oposição concordam de que não há clima para o pedido. Diferente do que aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor, no caso de Lula falta apoio popular para que o Parlamento endosse o pedido.

Os primeiros pedidos de impeachment vieram depois de julho de 2003, quando Lula começou a ser questionado pelas declarações que fazia em público. Em fevereiro de 2005, num discurso que durante inauguração da Estação Fazenda Alegre, no Espírito Santo, o presidente sofreu com quatro pedidos semelhantes, sendo dois do líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). Em público, Lula teria denunciado, sem provas, que houve corrupção no governo de FH.

No discurso, o presidente contou que no início do seu mandato, um ''companheiro'' que trabalhava no BNDES teria afirmado que o processo de corrupção que aconteceu durante o governo tucano foi muito grande. Resultado de ''algumas privatizações que foram feitas''.