Correio Braziliense, n. 22546, 09/12/2024. Economia, p. 7

Despedida de Campos Neto à frente do órgão


A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que ocorre amanhã e na quarta-feira, também marcará o último encontro do colegiado sob o comando de Roberto Campos Neto. O economista, cujo avô, Roberto Campos, foi o primeiro presidente do BC, está à frente da autarquia desde 28 de fevereiro de 2019 e deixa como principais destaques de sua gestão a aprovação da autonomia do Banco Central, em 2021, e o lançamento do Pix — plataforma de pagamento instantâneo desenvolvida pelos técnicos do BC e que segue sofrendo várias inovações desde que começou a funcionar oficialmente, em novembro de 2020.

Analistas destacam que, apesar das críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito desde o início do mandato, ele ainda precisará agradecer ao presidente do BC pela condução da política monetária. A taxa básica da economia (Selic) voltou para o patamar de dois dígitos, mas a economia segue com crescimento forte neste ano. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 seguem sendo revisadas para cima, e as mais otimistas esperam avanço de até 3,5%. “Tudo leva a crer que o segundo ano do atual mandato de Lula deverá ser lembrado como o seu melhor ano nos números macro gerais”, destaca Sergio Vale, da MB Associados, que passou a prever crescimento do PIB deste ano de 2,8% para 3,4%.

Para o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central e consultor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Campos Neto fez um bom trabalho e “vai deixar muita coisa boa para a instituição”. “A parte digital e a autonomia foram importantes. Pela primeira vez em 50 anos, vimos o BC não baixar os juros quando se tem uma eleição para presidente da República”, destaca. Contudo, Gomes critica o excesso de declarações de Campos Neto. “O presidente de um Banco Central não pode falar demais, para evitar ruídos, porque ele fala para comprados ou vendidos. Portanto, é preciso ser muito cuidadoso”, defende. Para ele, é preciso também evitar almoçar ou jantar com políticos, “principalmente agora, que a instituição é independente”.

O consenso entre os analistas é que, em 2025, o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, vai ter mais trabalho para controlar a inflação. “Em 2024, o PIB cresce acima de 3% e o desemprego está mais baixo, mas haverá desaceleração no próximo ano. A autonomia do BC vai ser colocada à prova, quando ficar próximo das eleições em 2026, e daqui para frente, o BC precisará continuar sendo duro no discurso e na condução da política monetária”, afirma Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval.