Título: Campanha cara, mas sem garantia de vitória
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 26/12/2005, País, p. A4

Os escândalos do mensalão e do caixa 2 vão deixar conseqüências na campanha de 2006. Além de o eleitorado rejeitar políticos diretamente envolvidos nas denúncias de corrupção, a população também estará atenta aos gastos excessivos de campanha. Preservados pelos relatórios da CPI dos Correios até agora, mas mesmo assim envolvidos em fatos que são investigados pela comissão, tucanos acreditam que, nas eleições do ano que vem, o dinheiro em excesso pode se tornar uma armadilha para o candidato.

Deputado federal pelo partido que apresenta atualmente - segundo as mais recentes pesquisas de intenção de voto - a maior probabilidade de chegar à Presidência da República, Gustavo Fruet (PSDB-PR) acredita que o eleitor estará muito mais criterioso, exigente e bem informado. Ele considera que exageros serão condenados nas urnas, como um fator positivo do efeito da crise política sobre o eleitorado.

- O excesso de gastos na campanha pode ter um efeito contrário para os candidatos.

Fruet, entretanto, admite que as campanhas de 2006, ainda assim, permanecerão sendo caras.

- Apesar de tudo o que está acontecendo, não devemos ter ilusões. A pretexto de profissionalizar a política, as campanhas ficaram caras. Fazer um bom programa de rádio e televisão e um bom material de campanha custa. Sem falar nos excessos, que são os shows e os brindes - disse Fruet, sub-relator de movimentações financeiras da CPI dos Correios.

A Comissão divulgou na última semana documento de prestação de contas que informa que o volume movimentado por Marcos Valério, o acusado de ser o operador do esquema do mensalão, somou R$ 2,6 bilhões entre janeiro de 1997 e agosto de 2005. Ou seja, as investigações da CPI também incluem o governo passado. Há que se fazer, entretanto, a ressalva que nem todo esse dinheiro foi utilizado para alimentar o caixa 2 de partidos políticos ou influenciar votações no Congresso.

Exemplo disso é o caso do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que renunciou à presidência do PSDB após ter que responder denúncias de que Valério operou um caixa 2 para sua campanha de reeleição ao governo do Estado de Minas Gerais, em 1998. Azeredo perdeu a disputa para o ex-presidente Itamar Franco.

Durante a campanha de 2006, opositores sedentos por denúncias capazes de desestabilizar campanhas rivais tentarão obter informações de operações ilegais de seus concorrentes para tomar vantagem na corrida eleitoral.

Tendo esse cenário de dificuldades em vista, a preocupação dos políticos é como se comportarão empresários que, se antes já receavam em figurar em listas de doadores de campanhas, agora poderão evitar mais ainda vincular a imagem de suas empresas a companhias políticas.

Em matéria publicada pelo JB na semana passada, o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, demonstrou tal preocupação e disse que as campanhas do partido terão diferentes comitês eleitorais, inclusive com distintos Cadastros Nacionais de Pessoa Jurídica (CNPJs). A medida traria ao partido maior segurança nas prestações de contas das campanhas.

Líder do PT no Senado, o senador Delcídio Amaral (MS), discorda do otimismo de Fruet com relação ao dinheiro e estima que a corrida eleitoral será marcada pela escassez:

- As eleições de 2006 terão um debate político intenso. Mas, as campanhas serão paupérrimas - afirmou o presidente da CPI dos Correios.

Para o líder do PFL no Senado, senador José Agripino (RN), o corte nos gastos de campanhas terá outro impacto positivo na corrida eleitoral. Para ele, haverá equilíbrio de oportunidades entre candidatos que podem contar com maior poder econômico e os que têm menos recursos.

- Espero que seja uma campanha mais pobre. O eleitor não vai permitir irracionalidades. Críticas ou propagandas excessivas serão condenadas porque serão ações consideradas eleitoreiras.