Título: Violência racial aterroriza estudantes
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/12/2005, Internacional, p. A7

O sábado foi mais um dia de violência racial em São Petersburgo, na Rússia, onde um em cada dois estudantes estrangeiros já sofreu agressão por racismo. Desta vez, dois africanos foram atacados por um grupo de skinheads. Um deles morreu com duas facadas no pescoço. O outro foi levado ao hospital gravemente ferido.

As duas vítimas foram agredidas na mesma rua, mas em horários diferentes, quando voltavam para o dormitório, na Universidade de São Petersburgo, segundo a polícia. No primeiro crime, os skinheads feriram a facadas um estudante que tentou fugir. De acordo com Aliu Dumkara, líder da organização estudantil Unidade Africana, o jovem era natural da Zâmbia ou do Quênia e está em estado grave.

Duas horas mais tarde, o camaronês Léon Kanhem, de 28 anos, foi morto esfaqueado no pescoço. Um outro jovem, da Namíbia, que o acompanhava, conseguiu fugir ileso.

- Eram mais de dez no segundo ataque e o grupo era de skinheads - afirmou Andrew Suberu, da Unidade Africana, citando testemunhas.

O chefe da polícia local, Alter Ego Grebtsov, informou que os jovens que atacaram tinham entre 16 e 20 anos.

Ontem, Nikita Chaplin, representante dos estudantes russos, fez um apelo ao presidente, Vladimir Putin, e ao governo para que assumam o comando da investigação, já que não confiam na eficiência das autoridades locais. Os universitários estão organizando um protesto contra o crime.

Em novembro, depois da morte de um peruano na cidade de Voronezh, cerca de 500 estrangeiros saíram às ruas para protestar contra os ataques. Os estudantes acusam a polícia de se negar a investigar, na maioria dos casos, o aspecto racista das agressões, limitando-se a qualificá-las de atos de vandalismo, aumentando a impunidade.

Entre os principais alvos dos skinheads, que multiplicaram os atos de violência nos últimos anos, na Rússia, estão, sobretudo, descendentes do Cáucaso, das ex-repúblicas soviéticas, árabes, africanos e asiáticos.

Em 2004, 44 pessoas morreram em ataques racistas, segundo o escritório russo da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch. Este ano, foram pelo menos 15, além de 30 que ficaram gravemente feridos ou com seqüelas depois de agressões. Segundo a ONG, o país tem cerca de 50 mil skinheads, número recorde, e diversas organizações neonazistas.

O maior número de desistências de estudantes estrangeiros em função do alto número de ataques ocorreu este ano. Hoje, são 50 mil estudando no país, número três vezes menor que em 1990. De acordo com estatísticas da polícia russa, os crimes contra essas pessoas cresceram quatro vezes desde 2001.

Na Universidade da Amizade dos Povos Patrice Lumumba (Moscou), onde 85% dos alunos vêm de países africanos, asiáticos e latinos, os estrangeiros decidiram criar grupos de segurança coletiva entre os próprios alunos.

Somente em março, quatro estudantes estrangeiros morreram depois de serem agredidos. Em julho, um marroquino foi atacado com coquetel molotov e teve o corpo incendiado. Um estudante do Congo foi esfaqueado e morto por quatro jovens, em setembro.