Título: Papa faz apelo contra o terror
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/12/2005, Internacional, p. A8

Em seu primeiro Natal à frente da Igreja Católica, o papa Bento XVI transformou a tradicional mensagem natalina em um pedido de paz e igualdade social e entre os povos. Dezenas de milhares de peregrinos munidos de guarda-chuvas lotaram ontem a Praça de São Pedro para ouvir a mensagem ''Urbi et Orbi'' (para a cidade e para o mundo) e a bênção papal. Na mensagem, em italiano, o papa exortou a humanidade a unir-se contra o terrorismo, a pobreza e a deterioração ambiental, e pediu uma ''nova ordem mundial'' para corrigir os desequilíbrios econômicos.

O discurso foi feito na varanda da Basílica de São Pedro e transmitido ao vivo pela televisão para dezenas de milhões de pessoas em quase 40 países. Bandas da Guarda Suíça e da polícia italiana ajudaram a tornar a atmosfera do Natal festiva, apesar da chuva.

- Uma humanidade unida poderá confrontar os muitos problemas do presente: da ameaça do terrorismo à pobreza humilhante em que vivem milhões de seres humanos, da proliferação das armas às pandemias e à destruição ambiental, que ameaça o futuro do nosso planeta - disse, enumerando alguns dos mais sérios problemas enfrentados pelo mundo neste século 21.

Ao contrário do antecessor, João Paulo II, morto em abril, que falava destes temas de forma mais geral, Bento XVI fez questão de citar nominalmente vários pontos do globo que passam por momentos de tensão atualmente.

- Deus, que se fez homem por amor ao homem, apóia aqueles que, na África, agem pela paz e pelo desenvolvimento, como na região do Darfur e outras áreas da África Central.

Bento XVI também evocou os ''homens de boa fé'' que agem na Terra Santa, no Iraque e no Líbano, e aqueles que estão engajados no processo de diálogo na península coreana e em outros países asiáticos.

Entre as questões da atualidade abordadas pelo papa, também foram citadas as conquistas tecnológicas que se sucedem em ritmo acelerado. Bento XVI pediu que as pessoas não se deixem cegar por tais avanços e esqueçam os verdadeiros valores humanos. E afirmou que o nascimento de Cristo deve servir de inspiração para renovar a esperança e ajudar a atravessar momentos difíceis.

- O poder de Cristo de conceder é um incentivo para a construção de uma nova ordem mundial baseada na ética e nas relações econômicas justas - disse.

Não apenas no conteúdo, mas também na forma e no estilo o discurso do líder do 1,1 milhão de católicos romanos foi diferente em relação a João Paulo II. Este escrevia seus discursos de Natal em versos livres que lembravam poesia, enquanto Bento XVI escreveu em prosa. Depois da mensagem, Bento 16 desejou Feliz Natal ao mundo em 33 idiomas, incluindo árabe, hebraico, japonês e latim. João Paulo usava às vezes o dobro de idiomas em suas mensagens de Natal.

O próximo evento do papa na temporada de Natal será uma missa no dia 6 de janeiro. No começo de janeiro, deverá publicar sua primeira encíclica - escritura dirigida a todos os membros da igreja, que trata da relação pessoal com Deus.