O Estado de S. Paulo, n. 47879, 18/11/2024. Política, p. A8
STJ rescinde delação de desembargadora da BA
Rayssa Motta
O ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), rescindiu o
acordo de colaboração premiada da desembargadora Sandra Inês Moraes Rusciolelli Azevedo, afastada do Tribunal de Justiça da
Bahia, e do filho dela, o advogado Vasco Rusciolelli
Azevedo, na Operação Faroeste.
O
Ministério Público Federal (MPF) alegou que eles descumpriram as cláusulas do
acordo e deixaram de colaborar com a investigação, “não comparecendo às
audiências designadas, sem justificativa idônea”.
Procurada
pelo Estadão, a defesa informou que foi a desembargadora quem pediu a rescisão
do acordo de colaboração, porque houve quebra de confidencialidade por parte
das autoridades, e não o contrário.
Os advogados Oberdan Costa, Maria Luiza Diniz e Samara de Oliveira Santos Léda, que representam a magistrada, também informaram que vão recorrer. “Não foi ela quem iniciou a quebra do contrato, mas, ao que parece, será ela a responsabilizada”, afirmam (leia a íntegra da nota ao final da matéria).
Sandra
Inês foi a primeira desembargadora a fechar um acordo de delação no Brasil. Os
anexos citam 68 pessoas, entre magistrados, advogados, empresários e até
políticos.
Segundo
a decisão, as provas entregues pela desembargadora e pelo filho seguem válidas
e poderão ser usadas inclusive contra os dois. Com a rescisão, ambos perdem os
benefícios negociados e o valor já recolhido a título de multa.
O
ministro Og Fernandes afirmou que, após assinarem o acordo de colaboração
premiada e já começarem a obter benefícios, como a flexibilização de suas
prisões preventivas, Sandra Inês e o filho “deixaram de efetivamente colaborar
com as autoridades públicas na investigação dos fatos narrados” e demonstraram
“resistência injustificada” em honrar os compromissos assumidos.
Neste
mês, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça abriu uma ação penal
contra a desembargadora e o filho dela por corrupção passiva, organização
criminosa e lavagem de dinheiro.
Deflagrada
em 2019, a Operação Faroeste começou investigando sentenças favoráveis à
grilagem de terras no Oeste da Bahia, que teriam movimentado fortunas. Com o
avanço do inquérito, surgiram suspeitas de corrupção também em acordos de
recuperação judicial e processos envolvendo débitos de empresas solventes.