Valor Econômico, 17/04/2020, Finanças, p. C2

Bolsas globais sobem apesar de dados ruins da economia
Gabriel Roca
André Mizutani
Rafael Vazquez


Os índices acionários em Nova York e na Europa se descolaram dos números negativos da economia e encerraram a sessão em alta. Analistas atribuíram os ganhos à expectativa do anúncio de medidas para a flexibilização do distanciamento social, que podem aliviar restrições para a atividade comercial e empresarial.

Na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse), o Dow Jones subiu 0,14%, aos 23.537,68 pontos, enquanto o S&P 500 ganhou 0,58%, aos 2.799,55 pontos. O índice eletrônico Nasdaq avançou 1,66%, aos 8.532,36 pontos. Na Europa, o Stoxx 600 fechou em alta de 0,58%, aos 324,92 pontos.

A alta das ações veio mesmo após uma série de evidências dos impactos negativos da pandemia na atividade econômica dos EUA. O número de americanos que solicitaram o seguro-desemprego pela primeira vez foi de 5,245 milhões na semana passada, de acordo com dados do Departamento do Trabalho. Desde meados de março, cerca de 22 milhões de cidadãos recém-desempregados entraram com pedido do benefício.

Para além do mercado de trabalho, o índice de atividade manufatureira do Federal Reserve da Filadélfia caiu de -12,7 em março para -56,6 em abril, ficando abaixo de nível atingido durante a crise de 2008. O início de novas casas, uma medida da construção de moradias nos EUA, recuou 22,3% em março em relação a fevereiro, no maior declínio percentual mensal desde 1984.

Em meio à deterioração da perspectiva econômica americana, ativos de proteção encerraram o dia com demanda elevada. Os rendimentos dos Treasuries de 10 anos, que caem quando os preços sobem, fecharam o dia em queda, a 0,61%, de 0,63% da véspera.

O otimismo do mercado acionário foi atribuído à expectativa de retomada da atividade econômica, com os sinais de que o contágio da pandemia do novo coronavírus está se estabilizando nos países desenvolvidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que ofereceria diretrizes aos estados e autoridades locais sobre como reabrir a economia, flexibilizando algumas das atuais restrições à atividade social e empresarial.

Alguns analistas e investidores esperam que os mercados possam apresentar uma recuperação rápida, caso a reabertura da economia seja feita de forma organizada e que não haja uma nova onda de contágio da pandemia.

“As notícias de que o bloqueio está chegando ao fim serão positivas para as ações. No entanto, isso precisa acompanhar as evidências de que uma segunda onda de infecções por coronavírus não está a caminho”, disse Fiona Cincotta, analista de mercado do City Index, ao MarketWatch.

Os casos confirmados de covid-19 ultrapassaram 2,1 milhões em todo o mundo, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, com os EUA representando cerca de um terço deles. O número global de mortos ultrapassou os 140 mil.

“A fase inicial de choque está para trás”, disse Stefan Hofer, estrategista-chefe de investimentos do LGT Bank Asia. Mas, à medida que surgem dados concretos sobre o impacto econômico dos ‘lockdowns’, o mercado ainda pode reagir negativamente”, afirmou à Dow Jones Newswires.